CENA URBANA
Lágrimas num rosto de criança,
Liquefação de toda esperança,
Por um prato de comida.
O cheiro guardado na lembrança,
O estômago que revira e dança,
Pedindo uma sobrevida.
O rosto encostado no vidro,
Do restaurante, e o olhar perdido,
Fitando tanta refeição.
A pressão zumbindo no ouvido,
Nenhum gesto compadecido,
Daqueles que comem, à exaustão.
Então, o ódio se faz presente,
A vontade é ir em frente,
E roubar tudo que conseguir.
Mas, eis que chega o gerente,
E grita, bem reticente:
"Pivete, safado, fora daqui!"