31 de Março
Quantos dos nossos, agora estão contigo,
doce guerreira?
Ainda doem as feridas que te feriram
e a dignidade que te roubaram?
Ainda é o mesmo brilho que tens nos olhos,
de quando fazíamos o Brasil livre?
Tuas mãos ainda guardam os carinhos
que te eram fartos e generosos
e ainda é a mesma
a coragem com que tu empunhavas a bandeira
da gente livre?
Tu ainda cantas os Cantos de independência
e ainda ouve o choro dos desvalidos?
Ainda insistes para que se ergam
e espantem a besta-fera
que prende, tortura e mata?
Aqui, minha doce guerreira,
ainda há muito que caminhar.
Ainda há tanto porque lutar,
mas eu sinto, companheira,
que alguma semente se pôs a germinar.
É preciso que a tua doce bravura
não nos falte,
pois bem sabemos
que o justo não se abate.
Por ti, por Miraflores, por Carlos,
por Maurício, por Lavínia e
por tantos e tantas,
creia,
todas as lutas serão santas.
Sempre se revestirão da pureza
dos bem intencionados,
do vigor dos determinados
e da revolta dos injustiçados.
Tua luta será sempre viva
e tua chama sempre renovada.
A liberdade que te custou a vida
não haverá nunca de ser esquecida.
Por isso, companheira, aquiete a alma
e descanse do Mundo. Descanse dos homens.
O chão do Brasil te abriga.
Que a tua dor adube a terra amiga.
Dela, nascerão novos tempos
e, neles, o justo esquecimento
daquela noite de tanto tormento.
Para Bete. Saudades.