Memória do mundo
Histórico é o nosso povo
que viveu, que vive, teima...
Bacana os bárbaros, bacana Deus,
bacana tu, bacana você,
bacana vós...
Bacana os sacanas,
que sacaneiam na cama, na mesa,
na utopia de um bar.
Geração camaleão,
mutantes por opinião.
Na boca que ri agora,
na boca que sangra e que chora,
no seu olho que também ri,
no teu braço que corre,
na vossa perna que afaga a dor,
na tua cabeça que pisa,
no teu ouvido que grita
tem um pouco de você: bacana sacana!
Séculos nos consomem a carne,
deixam-nos velhos e fracos.
Mundo doido que nos fabrica,
- acidentes do tempo
que nos brecham o piso
e nos levam para a terra,
sete palmos que cobrem;
- bastaria um punhado,
que cobrisse a cara, o sexo,
que não parecesse conosco,
que ficasse diferente
dos que já foram sem poesia,
dos que confundiram ópio com aipo
e morreram descansados,
bonitos, penteados, mas sem vocação para o imponderável,
sem banda de música tocando, sem coreto lotado na praça...
sem nada!
Morte boba e sem graça,
assim eu não iria querer morrer.