Águas de Janeiro

A chuva que cai e que mata

a luta que esgota a força do pobre

Enchente que leva e destrói

Tristeza que dói e machuca

Lágrima inunda os olhos

transborda a alma de tanta amargura

Chuva que cai e que mata

a luta que esgota a alegria do pobre

Enchente que mata a gente

que leva a prece, o móvel, a vida

Chuva de lágrimas de Deus

enche o coração, afoga filhos seus

Vida que foi e não volta

De dureza e revolta

molha o que crê e o ateu

O homem que pensa no que constrói

não pensa que ele mesmo destrói

Não pensa porque não lucra ao pensar

E morre, e chora quem morre, e morre de chorar

Vida vazia, cheia de água, cheia de lágrima, cheia do mar

do lago e do rio, cheia do vazio a mãe a lamentar

E volta pro céu, e faz a prece, e aí é que esquece

Não basta rezar...

Muda de lugar e consciência

Tem paciência, muda contra quem lutar

O inimigo mora dentro do mesmo coração

Que chora na chuva, que se afoga no carrão

Lixo que se sente, lixo que entope, lixo que causa dor

Lixo que antes de matéria está dentro da cabeça,

Cabeça que se entope da cheia da ambição

Chove tanta coisa, tanto que transborda

Salva a ideologia, salve a pátria mãe que o pariu

Salva o que comprou, salva o que vendeu

Não salva a alma, que o lixo cobriu

Não salva a vida, que não valorizou

Não salva a mãe, natura mãe que consumiu

E no fim não lucrou, não lucrou...

E no fim apostou e perdeu...

E no fim culpou quem mais sofreu.

(20/01/2011)