OLHA PRA TI, MENINO!
Num vaivém e desenrolar de pernas
Ele atenta-se procurando um tostão
Sonhos esfolam-se na palma de suas mãos
Acostumado a sempre ouvir um “não”.
Olha pra ti, menino!
Todo sujo, pés descalços
Resultado do árduo trabalho na roça
Desde pirralho
Sendo esbofeteado pela vida
Hoje, em meio à cidade
De corpo esguio e mente irrequieta
Esquiva-se dos corpos na rua.
Olha pra ti, menino!
Um cobertor e um papelão
Juntando o que da bondade de alguns lhe sobrara
Na escuridão as sombras ladrilham seu abrigo
Tentam a qualquer modo disputar seu espaço
Em meio à ostentação
Contrastando a seu inútil jogo
Sobrevive em alusão a animal arisco
Encolhe-se no chão
Vê-se coberto de orvalho
A lua testemunhando sua sina
Olha pra ti, menino!
Seu futuro há muito se perdera
Em latas de lixo
A rua lhe faz companhia
Em sonhos emerge à utopia
Neles não haviam dor,
Blindava-se no aconchego da cama quentinha
Seu coração era afagado pelo abraço,
Abandono era apenas uma palavra,
Em família descobriu-se o amor.
Em devaneios quisera ele jamais acordar
Suplica pra que um dia, se acaso a sorte encontrar,
Que o levasse para longe dali.
No beco ao final da esquina,
Nômade,
Em passos incertos ele trilha.
Oro por ti, menino!
Para que um dia possa ter
Uma vida colorida.