FERRARE-SE
Só quem não tem uma Ferrari
Conhece a emoção de não se ter
A powermachine do homo status
Que vai de zero a cem árvores derrubadas em onze segundos,
Para carvão de siderúrgica,
Para lingote em navios,
Para metal em fábricas,
Para motor em montadoras,
Para vitrine em revendedoras;
Que pode atingir trezentos mortos por hora,
Com disparos de invasão,
Para controle de reservas,
De barris de cotação,
Do combustível-nação;
Seus pneus duram mais
Que o seringueiro que extrai
A seringa compulsória,
Cuja vida-inútil esvai
Em quilômetros andados
Pelas matas caiporas;
Seus bancos de couro nobre,
Mais nobres que o peão
De couro queimado ao sol
Em vida de gado pobre;
Seu painel, fibra-carbono
De alta tecno-orgia
Mais parece um faz-de-"Comte"
Da ciência que pró-mentia
Dos milagres ser a fonte;
Seu preço de lançamento
Equivale ao alimento
De dez mil afros-zumbis
Durante a curtíssima morte
Que eles passam aqui;
A Ferrari cor de sangue
É tesouro de templários,
Brinquedinho de czares
Afã de celebridades,
Sorte de milionários,
Mas só quem não tem uma Ferrari
Conhece a emoção de não se ter
A powermachine do homo status.