FERRARE-SE

Só quem não tem uma Ferrari

Conhece a emoção de não se ter

A powermachine do homo status

Que vai de zero a cem árvores derrubadas em onze segundos,

Para carvão de siderúrgica,

Para lingote em navios,

Para metal em fábricas,

Para motor em montadoras,

Para vitrine em revendedoras;

Que pode atingir trezentos mortos por hora,

Com disparos de invasão,

Para controle de reservas,

De barris de cotação,

Do combustível-nação;

Seus pneus duram mais

Que o seringueiro que extrai

A seringa compulsória,

Cuja vida-inútil esvai

Em quilômetros andados

Pelas matas caiporas;

Seus bancos de couro nobre,

Mais nobres que o peão

De couro queimado ao sol

Em vida de gado pobre;

Seu painel, fibra-carbono

De alta tecno-orgia

Mais parece um faz-de-"Comte"

Da ciência que pró-mentia

Dos milagres ser a fonte;

Seu preço de lançamento

Equivale ao alimento

De dez mil afros-zumbis

Durante a curtíssima morte

Que eles passam aqui;

A Ferrari cor de sangue

É tesouro de templários,

Brinquedinho de czares

Afã de celebridades,

Sorte de milionários,

Mas só quem não tem uma Ferrari

Conhece a emoção de não se ter

A powermachine do homo status.

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 09/03/2013
Código do texto: T4179933
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