PENÚRIA
Moço, eu não sou bicho,
Mas, vivo do lixo,
Explorando o nicho,
Da tal reciclagem.
Separando materiais,
Vidros, plásticos, metais,
Trabalhando por demais,
Com toda essa coragem.
Meu ganho é muito pouco,
E eu fico quase louco,
Gritando, já bem rouco,
Sob um sol a pino.
Respiro gases tóxicos,
Fedores, agrotóxicos,
Num ambiente caótico,
De lama, odores e desatino.
E o tempo vai passando,
Eu vou me definhando,
A morte se aproximando,
Da minha carcaça.
Os urubus me rodeando,
Sobre minha cabeça, circulando,
Para esquecer, só me afogando,
Nessa garrafa de cachaça.