Eu
Eu,
sou mulher,
sou negra,
sou do candomblé,
trago na pele as rejeições de uma sociedade doente,
que insiste em afirmar que nós negros não somos gente,
trago na alma as dores sentidas pelos meus ancestrais,
aqueles que foram sequestrados de suas terras, para servirem
como escravos aos senhores que se sentiam os maiorais.
Eu,
sou mulher,
sou negra,
sou do candomblé,
tenho todos os "defeitos" que a sociedade condena
muitas pessoas me olham com o olhar de pena
Mas, não quero a piedade de ninguém
meus ancestrais lutaram pela liberdade
e conseguiram-na com luta e sangue
sem depender da piedade de alguém.
Eu,
sou mulher,
sou negra,
sou do candomblé,
tenho o cabelo crespo que é taxado como ruim
muitos gostam e fazem questão de chamá-lo de pixaim
mas este pixaim traz o axé de todo meu povo negro.
que deixou marcas profundas em mim
Eu,
sou mulher,
sou negra,
sou do candomblé,
trago em minha companhia a doçura e os mistérios de mãe Òsún
e o desejo de luta, de batalha do meu pai Ògún.
trago nas minhas veias o sangue daqueles que lutaram por liberdade.
independente da tonalidade da minha pele, não sou morena
Sou negra na pele, na alma e no coração
sou negra, essa é que é a verdade!