DE NADA PODEM AS BOMBAS, ONDE SOBRAM CORAÇÕES
Lhe obrigaram a aceitar uma imposição
Em frente aos soldados, despirão sua dignidade
Vão lhe furar e dinamitar o seu querer
Peça ajuda aos cadetes da cidade
Barricadas inflamáveis, pedras, paus e ferros
Vontades exigidas em solicitações de concreto
Quando uma população é hipossuficiente
Do norte ao sul, vai gritar seu manifesto!
De nada podem as bombas, onde sobram corações!
Em meio a miséria, posses irregulares de terras
Crença num messias local, fanatismo sem igual
E o padre baixinho que não temeu excomunhão
Com um grupo de camponês mostrou força e união
A igreja de mãos dadas com grandes fazendeiros
Tentava em vão expulsar as sementes do Conselheiro
Era o povo lutando pelo que acreditava
Para mudar a realidade que ele estava
De nada podem as bombas, onde sobram corações!
A turba sertaneja, com foices e rastelos
Na terra que se abre e grita com extrema sede
Mandou três exércitos pro caminho incerto
Fez insígnia arder, mesmo perdendo a cabeça
Condutores e burros assassinados, bondes danificados
Se o valor é abusivo o povo deve reivindicar
Buscar sempre os seus direitos
Até o governo o aumento cancelar
De nada podem as bombas, onde sobram corações!
E quem poderia imaginar que elas revidariam?
Por seus maridos, irmãos e filhos lutariam
Rancor uterino contra convocações obrigatórias
Espetos de ferros e flores moldariam sua história
Pobres, escravos, fugitivos e prisioneiros
Pediam o fim da miséria do algodão
Pobreza, fome, doenças, irrelevância política.
Esquecidos onde o sol arde mais forte e fere o chão
De nada podem as bombas, onde sobram corações!
E quando o palácio já não mais abriga nobres ricos
Cedendo espaço para os nobres de coração
Tapuios, cabanos, negros e índios
Buscavam mais que o seus direitos, buscavam atenção
E quando o primeiro dos reis pensou que agradava
E participaria de uma das festas mais lindas
Foi saldado com uma chuva de garrafas aladas
Que repousaram em corpo nobre, na terra esquecida
De nada podem as bombas, onde sobram corações!