VER-O-PÊSO: VIVER & SONHAR
VER-O-PÊSO: VIVER & SONHAR
I
Ao longe
solitária gaivota
revoa ao sol.
Nas feiras, nos barcos, nas ruas
pessoas e coisas
se misturam.
Lutar é viver (e, às vezes, vencer)
mas é sempre resistir.
É manhã no Ver-o-Pêso !
I I
Nas latas, pedaços de carne
de peixe, restos de tudo
sobre o fogo brando
e negro
que consome vidas.
Sub-viver é preciso;
navegar... nem sempre !
Meio-dia no Ver-o-Pêso !
I I I
Prantos no frio;
corpos no cio;
luzes de navios...
música & cores, risos no ar.
É noite no Ver-o-Pêso !
I V
Meninos sob tuas pedras,
homens sobre elas:
-- "Nós não temos pátria,
não temos roupa...
nada temos mais.
Resta-nos apenas Ver-o-Pêso
e reviver (ver nascer)
outro velho dia".
Lua de fogo
plana
entre céus e águas:
madrugada no Ver-o-Pêso !
Ao longe
solitária gaivota
revoa...
"NATO" AZEVEDO
(Muitos vão ao Ver-o-Pêso somente para
sonhar. Este poema é dedicado aos poucos
que, sem sonhos, vivem/moram lá. 06/04/88)