HERÓI ANÓNIMO

Nem sempre as palavras

Dizem o que queremos.

Às vezes fogem-nos,

Levam-nos em círculos,

E em espirais

Que não entendemos.

Dão voltas tais

Que nos perdemos.

Como se tivessem vida

Ou a mensagem

Nelas contida

Fosse uma viagem

Para um outro Norte,

Que não a nossa muralha,

O nosso forte,

( A estrada

Que atalha

Da vida até à morte...)

- Mas teimamos,

Numa tenaz agonia ,

E domamos

A palavra fria,

Que finalmente possuímos.

E com ela construímos

Uma janela

Para o mundo,

Um barco à vela,

Ou um mar profundo.

Construímos como quem constrói.

Uma arte que nos dói

E que lembra talvez,

O pedreiro que sói

Colocar uma pedra de cada vez...

Ou aquela porta,

Abrindo outra vez,

Para um lugar que não está feito,

Como se o preceito não fosse

Construir de uma vez...

E assim vamos construindo

Algo que alguém já fez.

Dizendo o que alguém, rindo,

Já disse de outra vez...

( Ou que apenas pensou...).

Mas sempre sofrendo as dores,

Misturando aquelas cores,

Que nunca ninguém cantou...

E ganhando-lhe o nome,

Ou apenas o sinônimo,

O poeta é cada um de nós.

Cada um de nós é,

Apenas, mais um herói anônimo !

Herói,

E anônimo...