Geografia da Fome
Saiu de casa á correr, por que na dispensa não tinha nada pra comer,
Foi ver, a procissão, o batuque da lata, na rabeira do caminhão
A fala acelerada daquele que pregava.
Mesmo novo, ainda chié, já se emocionava.
Calma, que a noite tem zuada, foi-se o tempo que não pagava nada
Que não pagava nada,
Tempos outros, tempo amarelo, agarrado á foice e o martelo
Pra poder entrar, eo eo...
Tem que trabalhar, tem que trampar há há...
Tem que trampar há há...
Se diverte no baque virado, se diverte no baque solto
Sobe o morro, quebrando o silêncio que precede o esporro!
Camelou como camelô, anunciou
Gritando forte Macô.
Vai pro baile de periferia, com as asas de urubu
e seria agora um gabiru.
A volante persegue o macaco
Que se esconde no mocambo assustado
Vê a figura paterna do mulambo
Que sai na madrugada para o escambo
Agarra pela pata a cria, que as cinco acorda
E a corda sai de andada para suar sangue
Itacaré, Lagoinha ou qualquer outro mangue.
No final do dia, não imaginaria, não imaginaria.
Homem, criança, caranguejo ou lama,
Não sabe quem é quem, quem leva a fama
De alma sebosa, será agora
O homem caranguejo, patola
Carapaça, ficha na radiola
Uma idéia na cachola...