Geografia da Fome

Saiu de casa á correr, por que na dispensa não tinha nada pra comer,

Foi ver, a procissão, o batuque da lata, na rabeira do caminhão

A fala acelerada daquele que pregava.

Mesmo novo, ainda chié, já se emocionava.

Calma, que a noite tem zuada, foi-se o tempo que não pagava nada

Que não pagava nada,

Tempos outros, tempo amarelo, agarrado á foice e o martelo

Pra poder entrar, eo eo...

Tem que trabalhar, tem que trampar há há...

Tem que trampar há há...

Se diverte no baque virado, se diverte no baque solto

Sobe o morro, quebrando o silêncio que precede o esporro!

Camelou como camelô, anunciou

Gritando forte Macô.

Vai pro baile de periferia, com as asas de urubu

e seria agora um gabiru.

A volante persegue o macaco

Que se esconde no mocambo assustado

Vê a figura paterna do mulambo

Que sai na madrugada para o escambo

Agarra pela pata a cria, que as cinco acorda

E a corda sai de andada para suar sangue

Itacaré, Lagoinha ou qualquer outro mangue.

No final do dia, não imaginaria, não imaginaria.

Homem, criança, caranguejo ou lama,

Não sabe quem é quem, quem leva a fama

De alma sebosa, será agora

O homem caranguejo, patola

Carapaça, ficha na radiola

Uma idéia na cachola...

Jeff Ferreira
Enviado por Jeff Ferreira em 14/02/2013
Código do texto: T4139718
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