É Seca!
Quando o belo for uma revoada de urubus...
É seca!
Quando se morre enfim e de fato pela boca...
É seca!
Quando se dança um baião ao lado da morte...
É seca!
Quando o outono agride a suave primavera...
É seca!
Quando o luar ilumina o sepulcro da menina...
É seca!
Quando as aves das margens plácidas não gorjeiam mais...
É seca!
Quando o galo cacareja na noite solitário...
É seca!
Quando o pobre deixa o pouco pelo quase nada...
É seca!
Quando o poeta não canta debaixo do juazeiro...
É seca!
Quando o mandacaru não é sinal de benção é por que...
É seca!
E aos olhos do meu carrasco carcará, eu que sou carniça, torno-me alimento único...
É seca!
E tantos vivem afundados nas chances e nós com sede de piedade. Não me digam que é por que é seca!