Invisíveis

na rua estreita, na esquina,

duas figuras se entreolham,

dividiam a primeira pinga da semana

e emendavam os trapos cobertores.

o jovem passa, o vendedor passa,

os carros, as motos passam, batem.

mas eles, continuam lá, como um retrato.

a rotina miserável é um palco.

tanto se diz, tanto se "faz", nada muda.

agora passa o sol, a chuva, o meteoro.

só não se vê a mudança,

que não seja rubra e violenta.

seus ossos e peles escorrem,

é água derretida dos icebergs,

ambos produtos de exploração gratuita.

a vida passa para todos,

mas para dois mendigos,

tanto fez tanto faz.

se estão a margem,

a voz poética lhes diz não!

pois estejam a frente

ou ao lado dos muitos.

compondo uma massa heterogênea,

a única capaz de lhes dar, nos dar,

a visibilidade, justa e necessária.

Aldo Raine
Enviado por Aldo Raine em 26/01/2013
Código do texto: T4105660
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.