Invisíveis
na rua estreita, na esquina,
duas figuras se entreolham,
dividiam a primeira pinga da semana
e emendavam os trapos cobertores.
o jovem passa, o vendedor passa,
os carros, as motos passam, batem.
mas eles, continuam lá, como um retrato.
a rotina miserável é um palco.
tanto se diz, tanto se "faz", nada muda.
agora passa o sol, a chuva, o meteoro.
só não se vê a mudança,
que não seja rubra e violenta.
seus ossos e peles escorrem,
é água derretida dos icebergs,
ambos produtos de exploração gratuita.
a vida passa para todos,
mas para dois mendigos,
tanto fez tanto faz.
se estão a margem,
a voz poética lhes diz não!
pois estejam a frente
ou ao lado dos muitos.
compondo uma massa heterogênea,
a única capaz de lhes dar, nos dar,
a visibilidade, justa e necessária.