Fingir

Fingir é necessário.

Viver não é.

Fingir é educado.

Sentir não é.

Fingir é imposição social.

Um sorriso amarelecido.

Uma palavra pseudogentil.

E modos oitocentistas como

na decadente corte lusitana.

Fingir

é como o avesso do poema.

Escamoteamento de princípios e valores.

É um hide in object...

Traduzindo: esconder-se no objeto...

Fingir é deixar de ser sujeito

Para apenas sujeitar-se a uma

aceitação dolente...

Fingir é sem dúvida

uma arte humana

Mas quase uma especialidade feminina.

A brutalidade e animalidade masculina

sempre foram bem aceitas...

Mas em mulher...

cheira mal...

é interpretado como oligofrenia

Ou qualquer patologia psiquiátrica

Incurável e intolerável.

Fingir é necessário.

Quando eu morrer,

eu simplesmente vou

fingir de desaparecer...

Mas vou fingir tão completamente

que acreditarei tardiamente

em minha finitude

Na minha última barreira

do tempo não vencida...

Não tenho tempo hábil para fingir.

Então sou verdadeira,

por absoluta falta de escolha.

A verdade me cai feito um tijolo.

Não adianta não acreditar nela.

Pois ela não finge... ela não se importa.

E, sobrevive a todos os fingimentos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/01/2013
Reeditado em 20/01/2013
Código do texto: T4093384
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