Fingir
Fingir é necessário.
Viver não é.
Fingir é educado.
Sentir não é.
Fingir é imposição social.
Um sorriso amarelecido.
Uma palavra pseudogentil.
E modos oitocentistas como
na decadente corte lusitana.
Fingir
é como o avesso do poema.
Escamoteamento de princípios e valores.
É um hide in object...
Traduzindo: esconder-se no objeto...
Fingir é deixar de ser sujeito
Para apenas sujeitar-se a uma
aceitação dolente...
Fingir é sem dúvida
uma arte humana
Mas quase uma especialidade feminina.
A brutalidade e animalidade masculina
sempre foram bem aceitas...
Mas em mulher...
cheira mal...
é interpretado como oligofrenia
Ou qualquer patologia psiquiátrica
Incurável e intolerável.
Fingir é necessário.
Quando eu morrer,
eu simplesmente vou
fingir de desaparecer...
Mas vou fingir tão completamente
que acreditarei tardiamente
em minha finitude
Na minha última barreira
do tempo não vencida...
Não tenho tempo hábil para fingir.
Então sou verdadeira,
por absoluta falta de escolha.
A verdade me cai feito um tijolo.
Não adianta não acreditar nela.
Pois ela não finge... ela não se importa.
E, sobrevive a todos os fingimentos.