Dorme Brasil

O Brasil dorme deitado em berço esplêndido,

E os corruptos cantam cantos de ninar;

Zé do povo alheio, trabalhador e cândido,

No frêmito do bus lotado, sofre pra trabalhar...

A TV ente uma besteira e outra tolice maior,

Retrata nos jornais a nossa face sinistra;

Congestionamentos, apagões, sina de cor,

o Ministério do planejamento não ministra...

Catedráticos entrevistados mostrando saber,

Como se faz dormir nosso gigantesco boi;

Hoje dizem, seguros, como a coisa vai ser,

E amanhã explicam sábios, porque não foi...

Há muitas coroas no vasto império da língua,

Onde quem não tem vergonha, acaba rei;

Fazendo parecer que morrer assim, à `míngua,

É nosso cívico dever, em nome da pátria lei...

O regimento interno “canoniza” a preguiça,

E ainda gozam, mais que todos, amplas férias,

Tempo pra depositar “cestas básicas” na Suíça,

Afinal, não podem viver os tais, de misérias...

Nos dão carnaval, Olimpíadas, e ainda Copa,

Porque o nosso espetáculo não pode parar;

Pior que esse circo faz a alegria da tropa,

Que foi adestrada para não saber pensar...

Despertadores tocam, pesa o sono sádico,

Que até dá vontade de roncar também;

Brasil dormindo em seu berço esplêndido,

E eu acordado; pior, pensando em alguém...