Perfil

Certo dia ele tomou-se de revolta

Não suportava o sofrimento à sua volta

Queria ser útil à comunidade

E ver conhecidas suas possibilidades

Não lhe era possível ver tanta pobreza

Com um mínimo de comida faltando à mesa

Não havia médicos que pudessem curar

Não havia dinheiro nem emprego para trabalhar

Uma lista infinita de necessidades

A fome espalhava-se por todas as cidades

Mas o país tinha muitas riquezas

E havia um grupo social de irretocável nobreza

Que festivamente tocava os negócios

E achavam legítima a sua gestão

Sem que propiciassem à população

Sua parte na obra, seu justo quinhão

E os tempos assim os perpetuaram

De forma que outras verdades eles evitaram

Para manter o status a qualquer custo

Para permanecer no poder mesmo que fosse a pulso

E essa irredutibilidade

Criara uma única versão da verdade

Que um dia haveria alguém com talento

Pra tirar os pobres desse sofrimento

Foi então que se deu o aparecimento

Daquela pessoa que em outros momentos

Se prenunciara como redentor

Mas faltava o fator apoiador

E esta motivação era a consciência

De que não haveria futuro para imensa massa

De que não tinham mais nada a perder

Que valia a pena agora fazer valer

O poder de uma democracia até então madrasta

Votaram no líder que veio de baixo

Para o espanto da elite há muito acomodada

Alavancaram uma verdadeira lavada

E deixaram as nações vizinhas de fato espantadas

É que o rapaz eleito no pleito

Era um simplório com todo o direito

De comandar o país como qualquer cidadão

Ao estilo do culto a si mesmo ou não

E uma ditadura na expressão do termo

Foi configurando um novo perfil

Onde a elite agora é quem estava sem voz

Sem espaço nem imprensa

ficou muda, até para dizer a si mesma:

“Quem o fez fomos nós”