POEMA DESCONFIGURADO

O poema trancou na mente
                  Não rima
Nem cadencia
Sequer percebe o tema
E desliga de tudo

O poema era uma farsa
                  Uma pobre figura
Em busca de pão no lixo
E um gole de refrigerante
Nos litros ao leu

O poema se recusa a sair
                   Carrocinha de papelão
Dois meninos
E um cavalo manco
Os três não almoçaram

O poema era um logro
                    Um mensalão
Cultura de “Big Brother”
Pérola do Enem ou Vestibular
Último nas estatísticas

O poema caiu na sarjeta
                     Expirou qual Macabéa
Inconsciência incontinenti
Capim na boca
Que Clarice inventou

O poema era um vento
                     Caiu no esquecimento
Ninguém o lê
Ler poesia não mata fome
E nem enriquece avaros

O poema morreu
                      Antes do aborto
Estava demais absorto
Louco e sem imagem
Do salário a defasagem

O poema era a dor
                      De um destituído amor
Sem cores e nem flores
Alquimia do nada
Onde se refugiou o autor