Garrafas, mensagens e trocadilhos sem mar. Ou por um sonho menos ordinário.

Blog Patrícia Porto - Sobre Pétalas e preces (pporto.blogspot.com.br)

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Cartas jogadas ao mar?

Não as teremos mais!

De tolas certezas se preenchem a vida dos que andam ao certo.

Agora sim,

é o sal do perecível dos beijos,

do perecível do amor,

do mundo o filho descartado,

o espécime raro engolido pela má sorte.

Saberá quando ancião do dia o mal estar do domingo à noite,

a solidão da geladeira. O pinguim eletrônico. A ração congelada.

Saberá da estátua de um seio amputado,

da bomba anatômica apontada para os nossos umbigos. A perfeição.

Cartas jogadas ao mar?

De insônias passam seus dias, os lobos solitários.

Saberá o filho do mundo - do ínfimo e das margens,

(e por que tantas margens se a alma estará só?)

(por que tantos parênteses?)

Saberá da fragilidade do corpo,

porque terá sido do raciocínio lógico um afogado firme!

Saberá do verso o vespeiro, o excluído, o cortado sem dó.

A palavra que lhe apertará o gatilho. E partirá com ela. Em retirada.

Cartas jogadas ao mar?

Com poucas sentenças deixará sua cidade.

Dirá para velha: "voltarei logo". Mas não voltará nunca.

Saberá por tantos do mapa que não seguirá

de veias tortas do mundo, porque será dele

o tempo bastardo e a falta de semelhança com a reta...

Saberá do escudo de uso para morte súbita,

E sentirá a mão de mulher que acenará até o fim. Esperando.

Saberá então do cachorro esquecido no mato. E será dele auto-retrato.

Patrícia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 03/12/2012
Código do texto: T4017930
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