DOCUMENTO DE ALFORRIA

“Ajoelhou tem que rezar”.

(Sabedoria Popular).

“Vida de gado, povo marcado, povo feliz...”.

(Zé Ramalho).

“Tô arretado com você. Tá vendo tudo e fica aí parado,

com essa cara de viado que viu o caxinguelê...”.

(Raul Seixas).

Existe algo que me enraivece,

porém, da resposta não abro mão,

a quem ajoelha, não faz prece,

vem e diz que gosta do mau patrão.

É... Uma ação judicial fraca tem dado

motivo para enriquecer

a facção patronal que marca o “gado

vivo”, antes de o abater.

O outro fato que me irrita

é uma alienação de quem,

só ouve desacato e “evita”

a contestação que convém.

Eu contemplo a pura

conclusão que me restou:

a exemplo da ditadura,

a escravidão não acabou.

Quero meu documento de alforria

e haverei de obtê-lo, com pertinência.

Eu me exaspero com a “confraria”,

a quem não faço apelo de clemência.

Sei o que é meu, por direito,

e me convém obter o almejado.

Não acatarei um desrespeito

de quem me quer escravizado.

Eu não sou nenhum “gado vivo”

e nem “ovelha desgarrada”.

Já ficou confirmado: não sirvo

para ter a vida escravizada...

Paulo Marcelo Braga

Belém, 12/02/2007

(03 horas e 30 minutos).