Embaixo do caminhão

A marmita

de plástico

branco

salpicada

de barro

tem num canto

farinha de mandioca

com borra

de carne frita,

no outro

arroz

empelotado,

e no meio

uma capa

gorda

de toucinho

de porco

sem sal.

No chão

de terra

molhada,

abrigando-se

da chuva

embaixo

do caminhão,

o cortador

de cana

rasga com

as mãos

o toucinho,

mistura os pedaços

com farinha

e arroz

e leva tudo

à boca

desdentada,

desesperada,

voraz.

Ao todo

são quatro

trabalhadores

jovens

comendo com

as mãos

no pequeno intervalo

concedido

pelo dono

do canavial,

dos caminhões

das foices e

usinas

do inferno.

Seu viver é isto:

agachados,

curvados,

humilhados,

misturando-se

às sombras

do caminhão

que não é deles,

pés cobertos de lama,

rachados,

sustentando

o peso

do que é assim

e pronto,

não tem jeito:

trabalhar

trabalhar

trabalhar

para não morrer de fome,

olhos brilhando

nas sombras,

embaixo do caminhão.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 27/11/2012
Reeditado em 27/11/2012
Código do texto: T4007868
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