Embaixo do caminhão
A marmita
de plástico
branco
salpicada
de barro
tem num canto
farinha de mandioca
com borra
de carne frita,
no outro
arroz
empelotado,
e no meio
uma capa
gorda
de toucinho
de porco
sem sal.
No chão
de terra
molhada,
abrigando-se
da chuva
embaixo
do caminhão,
o cortador
de cana
rasga com
as mãos
o toucinho,
mistura os pedaços
com farinha
e arroz
e leva tudo
à boca
desdentada,
desesperada,
voraz.
Ao todo
são quatro
trabalhadores
jovens
comendo com
as mãos
no pequeno intervalo
concedido
pelo dono
do canavial,
dos caminhões
das foices e
usinas
do inferno.
Seu viver é isto:
agachados,
curvados,
humilhados,
misturando-se
às sombras
do caminhão
que não é deles,
pés cobertos de lama,
rachados,
sustentando
o peso
do que é assim
e pronto,
não tem jeito:
trabalhar
trabalhar
trabalhar
para não morrer de fome,
olhos brilhando
nas sombras,
embaixo do caminhão.