Brancas de neve

Findas Venturas da Vida,

Que passam leves e vagas,

Levam a Luz destorcida...

Cantam o tempo das plagas.

O Tempo passa depressa...

Mal canta a Vida fugaz.

A Chuva mal recomeça,

Termina em mágica e paz.

E neste Mundo civil,

Existem grandes razões.

Nunca, no Céu varonil,

São feitas tristes Canções.

O Mar é lago sereno

Segundo o grande poeta.

O Vento é dócil e ameno...

A Lua é prata e concreta.

Nessa harmonia perene,

Eu canto doce novela.

Com verso langue e solene,

Procuro a forma mais bela.

Era uma vez uma dama,

De face rúbida e leve.

Era mais branca que lama...

Não era a Branca de neve...

Trazia um filho nos braços...

Trazia um outro no ventre...

Não há razão nos seus passos

Que n'alma terna nos entre.

Era inefável boneca...

Dentro da morta natura.

Um filho vão, sem cueca,

Então lhe disse, em ternura:

"Mamãe, não chores agora...

Davi, na tua barriga,

Ouve teus prantos e chora

Sem luz, sem ar... Sem amiga...

Eu sei... Papai não retorna...

A fome cedo o levou...

Mas tua luz 'inda adorna

Meu Céu, que quase acabou..."

Lá no sertão da Bahia...

Lá na favela do Rio...

Essa novela, em porfia,

Toca algum canto vazio.

Fome... Só fome sofremos...

Tanta beleza em langor.

Sede... Só sede nós vemos...

Eu busco um pingo d'amor.

Versos e versos eu perco...

Vidas e vidas e dor.

Vendo tal cena me cerco

De versos vagos d'amor.

Enquanto o Sol não cantar

Da forma diva que deve,

Canto os encantos do Mar

E verso as Brancas de neve!

24/11/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 24/11/2012
Reeditado em 24/11/2012
Código do texto: T4003246
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