Arrancado da África
Eu sou negro de porões sem lume
Eu sou escravo de navio negreiro
Pulseira grilhão em braço betume
Turista sem bilhete em cargueiro
Atlântico, veio que serviu de rumo
América, que da terra dava o doce
Cana que torcida oferecia seu sumo
Dada à mão, como se branca fosse
Sem sandálias, as negras da senzala
Não só descalças, arrancadas e nuas
Atentas à volúpia da libido em gala
Sem montar família, criança espúria
Ninguém almejava uma raça alvejada
Minha cor é negra, da cor de um luto
Mulato se fez raça, raça desdobrada
África tão mesclada, negro impoluto
E nesta terra de onde arranco a cana
Senzalas, colar de negros algemados
Cantarei costume que de mim emana
Fora do meu berço, à África atrelado