Arrancado da África

Eu sou negro de porões sem lume

Eu sou escravo de navio negreiro

Pulseira grilhão em braço betume

Turista sem bilhete em cargueiro

Atlântico, veio que serviu de rumo

América, que da terra dava o doce

Cana que torcida oferecia seu sumo

Dada à mão, como se branca fosse

Sem sandálias, as negras da senzala

Não só descalças, arrancadas e nuas

Atentas à volúpia da libido em gala

Sem montar família, criança espúria

Ninguém almejava uma raça alvejada

Minha cor é negra, da cor de um luto

Mulato se fez raça, raça desdobrada

África tão mesclada, negro impoluto

E nesta terra de onde arranco a cana

Senzalas, colar de negros algemados

Cantarei costume que de mim emana

Fora do meu berço, à África atrelado

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 07/11/2012
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