Viramundo

Eu sou aquele que plana

Muito mais do que voa

Na garoa frisante, no inverno hostil

Eu sou aquele que planta

Muito mais do que colhe

Que escolhe o menor

Por conhecer o vazio

Eu sou aquele que sabe

Que não sabe de nada

Que moldou a estrada

À sua própria cruz

Que endoideceu no escuro,

Acendeu uma vela,

Adoeceu com a luz

Eu sou aquele que canta

Se de porre, até dança

Com água ardente espanta

O sereno e o mal

Que carrega uma manta

Que venera uma santa

Faminto dorme e levanta

No país do pré-sal

Eu sou aquele que vaga

Na cidade se esmaga

Como o pão que procura

À procura de um lugar ao sol

Que faz bico, faz prece,

Faz da sarjeta colchão

No país do futebol