Clamor de Pivete
Clamor de Pivete
Moleque travesso
de molambos e mocambos,
menino de tara canil,
futuro senhor do Brasil...!!!
Moleque que urge e tomba num motim
de um botequim qualquer,
a explodir o arsenal trivial
com uma reação viril...
Cão danado, raivoso,
abandonado ...
Revivendo indefeso,
às pressões do Brasil
tão careta e dormente
cheio de festas e enganos...
Menino gente, moleque de pano
sem roupa, sem nada,
destinado a pagar
o que não comprou.
Moleque atrevido
trás alarido e zumbido
que os forçam a matar,
com canhões, punhais
e armas mil,
nesta terra de festas...
O Brasil!!!
Tiros na multidão que grita:
mudanças de padrões,
nada de lutas sangrentas!
Queremos apenas viver;
temos fome de amor!
Precisamos dizer que existimos,
que estamos aqui, Brasil!!!
Somos filhos teus
e, tu retratas no mundo,
o bebê, a anunciação a erguer
a comunhão universal,
do evangelho e do amor...
Estamos ébrios e fracos,
deserdados, esquecidos
no enorme canil que a vida nos legou...
Das nossas cinzas,
um dia talvez encontrem antídotos
para sanar a indiferença,
diante do sofrimento e da dor,
do moleque carente, dos becos e das ruas;
do pivete esquecido,
massacrado e marginalizados, como nós,
acordando dos carnavais prolongados,
protestando como um arlequim enganado
que, cansado das festas,
tira a fantasia, lava o rosto e vai,
sem saber pra onde,
numa luta sem fim,
a chorar ou a xingar desesperado,
saindo da ilusão,
fugindo dos carnavais,
do colorido fingido,
para a decisão do momento final
de uma luta do moleque,
que entra no mundo do homem ...
Ser a ser,
sem saber que é,
porque nunca soube que foi.
Claudenice Rosário