Barcaça n°3
Olha-me o risinho na face
Que o tempo não curou
E de soberba e tal engano
Fez-se flor sem pudor...
E se mesmo há! És oculto,
Disfarçado e amarelado;
Fugindo do lodo e do assombro
Das bocas e do desdém calado.
Não se engane com os dias!
Que dia não há sem dia...
Que não seja inoperante e atroz
Que não dance e fume a melodia,
A melodia invisível dos boatos!
Das línguas tagarelas,
Das mentiras bem contadas
Da volúpia acre nas mazelas.
Olha-me o risinho na face
Que o tempo não curou
E de gula e tamanha gula
Das vírgulas, me acabou...
E se sinto, mais tolo devo ser!
Com os punhos cerrados,
Com o movimento calculado
Vivo de sonhos atados.
E toda essa vivencia do viver
Donde vem peregrina?
Onde pousa o hálito de mel?
Onde pousa, criatura cruel?
Será na atitude dos altivos
Ou na confusão dos ébrios?
Ou será que vive resmungando
Nos adjetivos crus e velhos?...
Olha-me o risinho na face
Que o tempo não curou,
São espinhos pobre criança...
Que o ponteiro não levou.