Barcaça n°3

Olha-me o risinho na face

Que o tempo não curou

E de soberba e tal engano

Fez-se flor sem pudor...

E se mesmo há! És oculto,

Disfarçado e amarelado;

Fugindo do lodo e do assombro

Das bocas e do desdém calado.

Não se engane com os dias!

Que dia não há sem dia...

Que não seja inoperante e atroz

Que não dance e fume a melodia,

A melodia invisível dos boatos!

Das línguas tagarelas,

Das mentiras bem contadas

Da volúpia acre nas mazelas.

Olha-me o risinho na face

Que o tempo não curou

E de gula e tamanha gula

Das vírgulas, me acabou...

E se sinto, mais tolo devo ser!

Com os punhos cerrados,

Com o movimento calculado

Vivo de sonhos atados.

E toda essa vivencia do viver

Donde vem peregrina?

Onde pousa o hálito de mel?

Onde pousa, criatura cruel?

Será na atitude dos altivos

Ou na confusão dos ébrios?

Ou será que vive resmungando

Nos adjetivos crus e velhos?...

Olha-me o risinho na face

Que o tempo não curou,

São espinhos pobre criança...

Que o ponteiro não levou.

Oziney Cruz
Enviado por Oziney Cruz em 16/10/2012
Código do texto: T3935417
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.