Barcaça n°2
Como dormes tranquila e noturna nessa volúpia
De segredos rotos,
E atada ao véu de sua graça e astuta malícia
Ébrios sem escrúpulos.
E dormes mais ainda no seio vagabundo
Da fiel meretriz
Ao toque suntuoso do patrão cruel e imundo
Que ri-se feliz...
Olhe sua desgraça imaculada e seus servos
De tédio a bocejar,
Olhe a esquina que se beija com o lindo brejo
Da amante a sonhar
E como sonha, como suspira! E que desdém
De desgosto apurado
Lhe serve de banho e debochado réquiem
No tumulto calado.
Mas ah! Dormes tranquila peregrina fulgência
Nesse vazio de visão,
E quem sabe por entre os dedos da maliciencia
Não acordes então...
Contudo, que seja graciosa como eterna companhia
E ébria como dantes,
Que carregue sobre os gélidos e tépidos a melodia
Enamorada dos amantes.