Barcaça n°2

Como dormes tranquila e noturna nessa volúpia

De segredos rotos,

E atada ao véu de sua graça e astuta malícia

Ébrios sem escrúpulos.

E dormes mais ainda no seio vagabundo

Da fiel meretriz

Ao toque suntuoso do patrão cruel e imundo

Que ri-se feliz...

Olhe sua desgraça imaculada e seus servos

De tédio a bocejar,

Olhe a esquina que se beija com o lindo brejo

Da amante a sonhar

E como sonha, como suspira! E que desdém

De desgosto apurado

Lhe serve de banho e debochado réquiem

No tumulto calado.

Mas ah! Dormes tranquila peregrina fulgência

Nesse vazio de visão,

E quem sabe por entre os dedos da maliciencia

Não acordes então...

Contudo, que seja graciosa como eterna companhia

E ébria como dantes,

Que carregue sobre os gélidos e tépidos a melodia

Enamorada dos amantes.

Oziney Cruz
Enviado por Oziney Cruz em 16/10/2012
Código do texto: T3935409
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