Ela
Ela chegou na empresa com um currículo de dar inveja.
Graduação, pós-graduação, mestrado na profissão.
Seis anos de experiência e uma bela carta de apresentação.
Foi contratada de imediato.
Mostrou-se dedicada, criativa, concentrada.
Tudo fazia Ela.
Cobria o colega doente.
Realizava tarefas em situações de repente.
Cobria o chefe que não aparecia.
Mas também o colega de ressaca.
E não reclamava.
Ao certo Ela trabalhava numa empresa pública ou privada.
Liderava com atenção, mostrava incrível versatilidade.
Exercendo a função com extrema lealdade.
Os dias foram passando, os meses, os anos.
Ela se transformando na funcionária exemplar.
Ninguém tinha o que Dela reclamar.
Estava lá, irresoluta, presente, polivalente.
Sendo multifuncional entendia do sistema
Assumia qualquer função com esplendorosa aptidão.
As pessoas não se interessavam o que se passava com Ela.
Tinha família?
Ninguém o sabia?
Tinha problemas?
Difícil dizer de uma funcionária que não adoecia.
Elogio não lhe faltava: talentosa, responsável, criativa, criteriosa, humana, ética, etc.
Era reconhecida como a melhor funcionaria.
Como raramente reclamava jamais foi promovida.
Não falava do filho caçula, dos três adolescentes.
Do marido doente.
Da mãe viúva.
Ela não se dava o luxo de comentar.
Era uma profissional exemplar.
Todos estavam felizes .
Ela nota dez, nota mil.
Mas um dia Ela não pareceu.
Souberam, mais tarde, que morreu .
Uns diziam: __vai fazer falta.
Outros, ___uma excelente funcionária.
Outros ainda:__ perfeita.
A empresa fez homenagens.
Levou flores, fez um lindo funeral.
Depois Ela foi esquecida.
Apagada da memória coletiva.
Antes do sétimo dia.
Uma outra apareceu.
E Ela, imediatamente, substituída.
De onde estava, muito tarde entendeu...
Quem morre é quem perde a vida.
Luz Ribeiro, 07 de outubro de 2012
Caros colegas, este texto me veio na cabeça. Não sei como ele pode ser classificado, de poesia, cordel(sei que não é). Apenas emendei as frases. Abraços fraternos e obrigada pela gentil visita.