A cidade de Patrão João
A casa de pau à pique, o barraco de lona
Construídos pelas mãos de quem trabalha
Dez horas por dia, no estoque, na rua
Com o Patrão João da padaria
Acordando às cinco horas
Pegando o ônibus lotado
Pagando o ônibus lotado
Suando de fora a fora
Para poder comprar o mesmo pão
Que fez para o Patrão João vender
E poder botar na mesa
Alimento para o filho comer
Pão no café, no almoço e na janta
E que bom seria se fosse pão todo dia!
Pois não são poucos os dias
Em que faltam dinheiro
Para poder comprar o mesmo pão
Que ele fez na padaria!
A casa de pau à pique e o barraco de lona
São a morada de todo dia
São o refúgio, onde fecham os olhos
Os trabalhadores da padaria
E que bom seria ter uma paisagem bonita!
Mas seu lugar de harmonia
É um esgoto a transbordar
É um boteco na esquina
São os buracos da rua e também os buracos da vida
Do trabalhador do estoque, da rua e da padaria!
A casa de pau à pique e o barraco de lona
Não aparecem no cartão de turista
O esgoto onde pesca o seu peixe
Não está nos impressos da firma
Mas o prédio onde mora o Patrão
Cercado de parque e piscina
Com muro, grade e portão
Está sempre na televisão
Para fazer propaganda ao turista
Que contempla admirado
Aquela cidade de boa vida!
A cidade de Patrão João
Tão segura com suas grades
Tão limpa com suas piscinas
E que ajuda a tanta gente
Com aquela padaria!