Mendigo
Ante ao chão gélido com os pés natos
Que queima na pele rústica, surrada, ferida
Cai a pálpebra com o sofrimento que há nele
Nos olhares desprezados do transeunte
A figura se mostra desprovida
Sem valor ao desavisado
Falta recurso mas não vida
Morte mesmo está na mente, do crente
De que um valor não se tem,
Mas seu mérito vai mais além
Só se obscurece pela carência do ensejo
Que no caos da cidade deturpa a imagem
Mas não apaga a chama do desejo
Por mais que o coração o despreze
Não se engane pela aparente pobreza
O verdadeiro mal provido do necessário
Alheio a qualquer salário
É o preconceito à ausência da beleza
Valor que não se põe à mesa, mas com certeza
“passa-te a perna” quando quer
Olhe à frente, veja ao lado
Mesmo num passo mais apertado
Lembre-se de virar pra traz
Perante um homem ou mulher
Um só sorriso é assaz