SEM TERRAS
Um brilho fosco nos olhos
Um ideal na incerteza
Sem terras em vastos campos
Domínios da avareza
São folhas secas levadas
No vento da esperança
Ludibriadas, na espera
Da suave brisa da bonança
São centenas de milhares
Aglomerados ao relento
Qual pedras junto as estradas
Em toscos acampamentos
E a meta da inocência
Desfalecendo engatinha
Na saga de interesses
Que habita a alma mesquinha
Porque no meio do campo
A ganância brota mais forte
E os ideais aos tropeços
Nas taipas, campeando a sorte
Pois á quem almeje a terra
Pra labutar sonhos na pobreza
E quem sonhe com o campo
Pra edificar mais a riqueza
E peitando a sorte arredia
Sem ares de petulância
Mãos rudes cortam alambrados
Nas glebas da ignorância
No rol das terras ociosas
Fértil santuário em descanso
A semente fecunda o solo
Num acasalamento manso
Flores, e frutos embelezam
A terra morta de antes
E o alimento é colhido
No suor dos ocupantes
Um efetivo da brigada
Um mandado do judiciário
E a reintegração de posse
Ao grande latifundiário
O ódio cega o bom senso
Nas invasões ilegais
O confronto extermina vidas
Mas o sonho, não se esvai
Por entre os corpos tombados
Se faz o cadastramento
E o moroso estudo técnico
Da área de assentamento
Algum órgão lamenta as perdas
A inquéritos nas cidades
E formam-se Comissões
Pra apurar responsabilidades
Mas vão-se os dias e os meses
E a impunidade persiste
E uma pergunta no ar
Que ao sofrimento resiste
Cadê a tal reforma agrária?
É só manchete em revistas?
O Governo esta em recesso?
Ou colocou venda nas vistas?
Pois especulasse a ignorância
Numa moratória de decretos
E o povo que almeja um canto
Para criar filhos e netos
Marchando busca trabalho
Não são manobras de guerra
Mas o troféu muitas vezes
São sete palmos de terra
E os “congressóides” gargalham
Tal qual hienas no cio
Alimentando-se de propinas
Arrotam o seu poderio
Sobre as legiões de sem tudo
Que vagam em desvario
Por caminhos tortuosos
E demagogos desvios