M E U S E R T Ã O
A casa, o pote, a porteira, o pilão;
o porco, o bode, a égua, o pavão;
O banco, a chaleira, o chapéu, o surrão;
Tudo isso tem no meu Sertão.
O cavalo, o vaqueiro, o mato, o gibão;
O boi, o curral, a corda na mão;
O leite, o queijo, a rapadura, o feijão;
Volantes, catinga, o Coroné Lampião;
A peneira, a gaiola, o xexeu, o carvão;
A espingarda, o cachorro, a perdiz, o cinturão;
A chuva, o roçado, a enxada e o pão;
O homem da roça fazendo oração;
O forró, a fogueira, o menino, o tição;
A ladainha, o terço, o joelho no chão;
A cantiga, a história, o som do violão;
Dama, cavalheiro, estouro de rojão;
O grilo, a cigarra, a formiga, o cancão;
Beiju, tapioca, cigarro na mão;
Carro, carroça, canzi e cambão;
O sol, a poeira, e o pé no chão;
Jabá, carne seca, a piaba, o pirão;
A cuia, a mochila, o balaio, o pilão;
O jereré, o badoque, a folha de cansanção;
O suor, o cansaço, e o calo na mão;
A galinha, o bruguelo, o gato, o gavião;
Cachorro latindo, ou preá, ou furão;
A vaca parida, o laço, o bezerro no chão;
A pele queimada, e o olhar na vastidão;
A cangalha, o cambito, o relho na mão;
O poleiro, o riacho, o galo, a titela de facão;
O barro, a parede, o capim do colchão;
O urubu, o cadáver, cheiro de podridão;
A foice, o martelo, o grampo, o pregão;
A estaca virada, retorcido o mourão;
No curral, nem vaca, nem boi, somente o alazão;
E a tristeza do vaqueiro em sua canção;
A chuva, a pingueira, e alegria no coração;
Sertanejo animado, começo da plantação;
A Deus agradece pois vai ter provisão;
Não será necessário abandonar o torrão.