M E U S E R T Ã O

A casa, o pote, a porteira, o pilão;

o porco, o bode, a égua, o pavão;

O banco, a chaleira, o chapéu, o surrão;

Tudo isso tem no meu Sertão.

O cavalo, o vaqueiro, o mato, o gibão;

O boi, o curral, a corda na mão;

O leite, o queijo, a rapadura, o feijão;

Volantes, catinga, o Coroné Lampião;

A peneira, a gaiola, o xexeu, o carvão;

A espingarda, o cachorro, a perdiz, o cinturão;

A chuva, o roçado, a enxada e o pão;

O homem da roça fazendo oração;

O forró, a fogueira, o menino, o tição;

A ladainha, o terço, o joelho no chão;

A cantiga, a história, o som do violão;

Dama, cavalheiro, estouro de rojão;

O grilo, a cigarra, a formiga, o cancão;

Beiju, tapioca, cigarro na mão;

Carro, carroça, canzi e cambão;

O sol, a poeira, e o pé no chão;

Jabá, carne seca, a piaba, o pirão;

A cuia, a mochila, o balaio, o pilão;

O jereré, o badoque, a folha de cansanção;

O suor, o cansaço, e o calo na mão;

A galinha, o bruguelo, o gato, o gavião;

Cachorro latindo, ou preá, ou furão;

A vaca parida, o laço, o bezerro no chão;

A pele queimada, e o olhar na vastidão;

A cangalha, o cambito, o relho na mão;

O poleiro, o riacho, o galo, a titela de facão;

O barro, a parede, o capim do colchão;

O urubu, o cadáver, cheiro de podridão;

A foice, o martelo, o grampo, o pregão;

A estaca virada, retorcido o mourão;

No curral, nem vaca, nem boi, somente o alazão;

E a tristeza do vaqueiro em sua canção;

A chuva, a pingueira, e alegria no coração;

Sertanejo animado, começo da plantação;

A Deus agradece pois vai ter provisão;

Não será necessário abandonar o torrão.

Ailton Clarindo
Enviado por Ailton Clarindo em 04/08/2012
Reeditado em 04/08/2012
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