Não

A mãe jovem preta parida

Ainda brinca de boneca

Veja a favela iluminada pelo sol de verão

Sinto o cheiro de pólvora no ar

É sangue vermelho na carne

Mais um presunto

Estará exposto ao amanhecer

Para todos verem

Possam visualizar

A dor no ar

A política

A violência

Emergindo da miséria

Não

Diga não

Diga reggae

A cidade é um imenso chiqueiro de concreto

Vidro fumê

Os de baixo não têm teto

Diga não

Diga não reggae

Na cidade quem tem dinheiro

Pode dar certo

Em cada esquina paira a névoa do ódio

A menina mulher

Empunha o punhal da cobiça

Do ódio e da traíção

Diga não

Diga não reggae

A justiça

A donzela

O nobre

A nobre gazela

Os poderosos de olhos vendados

À nossa miséria

Assaltos

Sequestros

Gangues

Crimes

Tóxicos

Quem é a vítima

Quem é o algoz

Quem será a próxima vítima

Quem será o sobrevivente atroz

Diga não

Diga não reggae

Os meus olhos vermelhos

Cheiro de dor

Nos gabinetes

De ar refrigerado

habitam os homens de coração de pedra

Os meus olhos vermelhos

É choro de dor

O menino da favela

É agora multi-color

O crime será a sua escola maior

Diga não

Diga não reggae

Os meus olhos vermelhos

É choro de dor

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 03/08/2012
Reeditado em 04/08/2012
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