Não
A mãe jovem preta parida
Ainda brinca de boneca
Veja a favela iluminada pelo sol de verão
Sinto o cheiro de pólvora no ar
É sangue vermelho na carne
Mais um presunto
Estará exposto ao amanhecer
Para todos verem
Possam visualizar
A dor no ar
A política
A violência
Emergindo da miséria
Não
Diga não
Diga reggae
A cidade é um imenso chiqueiro de concreto
Vidro fumê
Os de baixo não têm teto
Diga não
Diga não reggae
Na cidade quem tem dinheiro
Pode dar certo
Em cada esquina paira a névoa do ódio
A menina mulher
Empunha o punhal da cobiça
Do ódio e da traíção
Diga não
Diga não reggae
A justiça
A donzela
O nobre
A nobre gazela
Os poderosos de olhos vendados
À nossa miséria
Assaltos
Sequestros
Gangues
Crimes
Tóxicos
Quem é a vítima
Quem é o algoz
Quem será a próxima vítima
Quem será o sobrevivente atroz
Diga não
Diga não reggae
Os meus olhos vermelhos
Cheiro de dor
Nos gabinetes
De ar refrigerado
habitam os homens de coração de pedra
Os meus olhos vermelhos
É choro de dor
O menino da favela
É agora multi-color
O crime será a sua escola maior
Diga não
Diga não reggae
Os meus olhos vermelhos
É choro de dor