um poema que não precisa, necessariamente, ser vermelho

havia um homem

que vivia sua vida vermelha.

todos os dias, acordava de seu sono vermelho

se levantava de sua cama vermelha

tomava seu banho vermelho

e seu café vermelho.

saía pra seu trabalho vermelho

no seu carro vermelho.

parava no sinal, que por coincidência, também era vermelho.

ligava o som vermelho

e fechava os vidros vermelhos

de seu carro vermelho

pra não ver a cor dos meninos do sinal

vermelho.

comprava um jornal vermelho

lia as notícias vermelhas

e formava sua opinião vermelha acerca delas.

passava o dia vermelho

com pessoas vermelhas.

sorria vermelho,

quando sorria.

gastava seu tempo curto e vermelho

em fazer coisas vermelhas

mesmo que preferisse às amarelas ou às azuis.

mas fazia, porque tudo era vermelho.

chegando a noite vermelha,

chegava à casa vermelha,

com dores de coluna e centavos de salário vermelhos.

deitava a cabeça vermelha

no travesseiro vermelho

e fechava os olhos vermelhos pra deixar tudo escuro

e voltar pro sono vermelho de onde viera.

lá fora,

três tiros.

uma sirene.

dois cheira-colas estirados no chão.

uma só poça de sangue,

a única coisa realmente vermelha nessa história,

mas que permaneceu incolor.

Rivaldo Júnior
Enviado por Rivaldo Júnior em 02/08/2012
Código do texto: T3810222
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