O QUE NINGUÉM QUER VER
O QUE NINGUÉM QUER VER
Olho em torno da efervescência da vida rotineira
E vejo pessoas ambivalentes. Vêem o que querem ver
Porém falam o que não sentem. Impõem fronteira
Para o cérebro vaidoso, e importa-se com seu bem viver.
Ando pelas ruas da minha cidade e contemplo a arquitetura
Prédios, casas,... Monumentos que para os olhos são a cura
A história está por todo lado e orgulho-me dos meus avitos.
Do trem que foi extinto onde acenávamos para os seus apitos
À nova Avenida Afonso Pena que se ostenta com altanadice
Entretanto, meio a todo esse contraste achata-se a estroinice.
Vejo o dormir do mendigo ao amanhecer deitado no papelão
Seu corpo reduz-se de tão vergado que é para aquecer o chão.
Vejo a mãe de tantos filhos ensinando-os a serem pedintes
Que de caneca na mão já são profissionais, têm os requintes.
Adolescentes criminosos vadiam-se em furtos costumeiros
Tínhamos de por seus pais em escolas, para serem Brasileiros!
Vejo o cego de olho remelento a quem viramos a cara com asco
O deficiente físico pedindo auxilio para atravessar a rua
Os meninos que torcem nosso lixo, buscando comida crua
E a gentileza está ajoelhada, esperando o machado do carrasco.
A esperança dos sem esperança é que ao menos os enxerguemos
Mas quão mais cego somos que a eles nos despreocupemos?!
Vejo o futuro como um revólver apontado para minha cabeça
Com balas de um passado horrorizado com quem os esqueça
E envergonhando-se do nosso presente, almejando o tiro clemente.
O progresso ainda não alcançou o coração, a alma do ser humano
Ele precisa sofrer mais, odiar mais, para aprender a ser eminente
Pois somente assim, na dor, nos especializaremos num amor soberano.
CHICO DE ARRUDA.