À beira-Mar
Queridos leitores, estou em processo de saída deste site. Porém, juguei ser necessário a divulgação do meu último poema, não pelos versos em si, mas pelo seu recado.... Também deixei disponível o primeiro poema que fiz na vida, "Se em um dia ensolarado"....
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Início: 25 de Julho de 2012, às 19 horas
Término: quando o Brasil, além de belo, for feliz...
À BEIRA-MAR
"E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante."
(Joaquim Osório Duque Estrada)
I
Deste povo tão guerreiro,
Brilha a Luz d'um Sonho forte.
Neste Mar tão brasileiro,
A dor tem a sua morte.
Vem o Vento lá do Sul
A brincar co'as grãs Palmeiras.
Neste lindo Céu azul,
Voam aves tão ligeiras.
Sinto o Vento aqui do Norte -
Terra d'índios, d'esplendores...
Terra verde... Tive a sorte
De nascer em tais louvores.
Fim do dia... Só louvores!
Luz do Sol no fim das noites.
Terra de muitos condores
Que versaram contra açoites.
Sabiá d'um ser poeta
Voa longe lá no Mar...
Meu Brasil, em linha reta,
Sempre tu serás meu lar!
Mas que triste, tanta gente
Sofre ainda neste solo.
Esperai, oh Brisa ardente!
Acolhei-me em vosso colo!
Meu país, meu lar etéreo,
É fulgor, calor civil.
Mas, sobre este chão sidéreo,
Há sofrer, oh meu Brasil!
Sei que em teu risonho Mar,
O sofrer já não existe.
Todavia, em teu pulsar,
Inda existe gente triste!
Leva os versos meus, oh Mar!
Bebe, bebe esses meus versos!
Deixa aqui teu vil chorar...
Teus lamentos tão diversos!
Deste povo tão guerreiro,
Brilha a Luz d'um Sonho forte.
Neste Mar tão brasileiro,
A dor tem a sua morte.
II
Levantai-vos, eternos patriotas!
Nossa nação, em lágrimas já rotas,
Treme ao ver estes quadros vis, horrentes.
Vestígios e tremores fraudulentos!
Auriverde pendão... Caído aos ventos!
Povos! Escutai estes "ais" frementes...
Gonçalves Dias, mágico imortal,
Levanta-te! Teu povo gutural
Chora! Cantando ainda os versos teus...
Muitas mães bebem lágrimas do rosto;
Matam assim a sede... Que desgosto!
Nem água para os filhos... Oh meu Deus!
Ah! Castro Alves... Poeta dos escravos!
Combateste atos pútridos, ignavos...
Vem agora lutar pelo teu povo!
Dos teus egrégios versos, faze espada...
Luta! Grita! Defende a pátria amada!
Levanta-te, Alves... Sê herói de novo...
Mães! Pais! Índios! Guerreiros desta terra!
Negros! Brancos! Enfim, oh povo, à guerra
Ide agora! A batalha começou!
Albatroz! Ser vagante dessas águas,
Espalha já teus cantos pelas fráguas.
Na amplidão, o Sol sôfrego raiou...
Nossa bandeira - símbolo da glória...
Nossa bandeira, ao canto da memória,
Balança triste, lânguida... Mas nobre!
Lôbregas visões d'entre vis soluços;
Oh! Fome abaixo dos sangrentos buços;
Sede e fome atroz! Povo nu e pobre!
Desta auriverde flâmula - que é nossa...
Fazei, oh brasileiros, pele vossa...
E lutai por verdades esquecidas.
Há gritos, prantos, súplicas pungentes!
Há mortes, dores, lágrimas dementes!
Há pesadelos... Noites mal-dormidas...
Levantai-vos, eternos patriotas!
Nossa nação, em lágrimas já rotas,
Treme ao ver estes quadros vis, horrentes.
Vestígios e tremores fraudulentos!
Auriverde pendão... Caído aos ventos!
Povos! Escutai estes "ais" frementes...
III
Sentado à beira-Mar... O Sol do leste
Nasce! E voando a abóbada celeste,
Ilumina os contornos do Brasil.
Luz do infinito sobre o litoral...
Porém, meu Deus, que plástica brutal!
Painel bruto, venéfico, atro e vil!
IV
Tudo começa... A turba, à luz do Sol,
Frenética anda sobre tal lençol -
Imundo... Em cor fatal!
Ninguém o vê deitado neste chão...
Ninguém o vê entregue à solidão...
Mendigo tão banal!
O lençol, ao balanço vil do vento,
Observa do infeliz o passamento...
Mais rosas sobre o chão!
Foi vítima da úlcera da fome...
A larva tumular enfim consome
Ali triste razão!
O lençol, num autêntico sofrer,
Sofre e chora... Porém, p'ra não morrer,
Enfrenta outra dor vil!
Outra mísera vida, outro coitado...
Sem mãe, sem pai... No mundo, um isolado...
Paupérrimo civil!
"Ajoelho-me diante de ti, Pai!
Já não alcanço a infância que me vai..."
A pobre infante diz...
E, já co'as vozes roucas, andar débil;
Termina a prece em lábio seco é flébil:
"Eu sou um infeliz!"
O pobre menininho não aguenta...
A dor, a sede, a lágrima sedenta...
Ali morre co'o Sol!
Meu Deus! Meu Deus! Que mísero existir!
Meu Deus! Meu Deus! Que lúgubre partir...
Morrendo ao vil lençol...
No entanto, a turba nada disto sente...
- Irônica, fugaz, indiferente -
Não fujas, Leviatã!
Brasileiros! Abri os olhos vossos...
Este chão - invejado por colossos -
É palco de Satã!
Nordeste, terra rúbida, venusta,
É palco d'uma sede qu'inda assusta
Milhares dessas mães!
Norte... Da natural riqueza cálida,
Fez o capitalismo fonte pálida...
De sangue e folhas vãs!
Sabiá! Sabiá! Filho da paz...
Levanta canto árdego, sagaz...
E dize os sonhos teus!
Sabiá! Sabiá! Senhor dos ares...
Escuta estes gemidos tumulares...
"Meu Deus... Meu Deus... Meu Deus!"
E rola, rola sobre o chão tostado...
E dança, dança sobre o chão molhado...
A máquina do mal!
Feridas pelo corpo brando, imundo...
Abismo mortal, tétrico, profundo...
Fantasmas no quintal!
No Sul... Tanta riqueza e tanto engano...
Contraste social tão desumano...
Extremos lá no Sul!
Da mesma pátria somos nós irmãos!
Por que esta repulsão aos cidadãos
Do grã Nordeste azul?!...
D'um lado... Tantos ricos, tantos "nobres"!
D'outro lado... Civis coitados, pobres!
Conforto poucos têm...
Que vejo ali? Bebendo água da vala
Um homem que no chão feroz resvala
E sofre do desdém!
No entanto, a turba nada disto sente...
- Irônica, fugaz, indiferente -
Não fujas, Leviatã!
Brasileiros! Abri os olhos vossos...
Este chão - invejado por colossos -
É palco de Satã!
E rola, rola sobre o chão tostado...
E dança, dança sobre o chão molhado...
A máquina do mal!
Feridas pelo corpo brando, imundo...
Abismo mortal, tétrico, profundo...
Soturno pantanal!
V
Nesta terra tão amada,
Como existe tal sofrer?
Tanta vida desgraçada...
Tanta gente a falecer...
Não por tempo, mas por fome!
Sede bruta que consome
Tanta gente, tantos risos!
Pátria amada... Povo vil...
Este não é meu Brasil -
O maior dos paraísos!...
Do Nordeste, tão cantado,
Morre o povo inerme à sede.
Neste chão azul, rachado,
Água falta, oh povo, vede!
Neste solo sem destino -
Feito ao molde nordestino -
Muitos têm a morte cedo.
Bebe o sangue desta veia -
Que Deus joga sobre areia -
Oh, Nordeste, sem ter medo!
Norte... Terra em que nasci.
Meu Deus! Quanta infâmia vã!
Destas vezes que sorri,
Nada tenho na manhã!
Ricos, ricos empresários,
Que se dizem solidários,
Roubarão meu lindo rio!
Meu Xingu não tem mais dono!
Meu Xingu perdeu seu trono!
E eu me sinto mais vazio...
No Sudeste... Vã riqueza...
Tantos prédios! Tantos lares!
Oh! Porém atroz pobreza
Inda existe nestes mares!
Dois extremos se resolvem...
Dois extremos não se envolvem...
Cada qual com seus problemas!
Há sofrer, langor coberto...
Há viver fatal, deserto...
Nesta terra de dilemas!
Centro-Oeste... Do Cerrado!
Ah! Também possui dureza.
Natural presente dado...
Morre, morre a natureza!
Quadro em traços vis, fatais!
Forma em planos tão brutais!
Dança, dança o vento ali...
Folhas secas mais que flores;
Folhas secas, oh que dores...
Mas a turba algoz sorri!
Nesta terra tão cansada,
Sente o dia - tal sofrer!
Tanta jura desgraçada...
Tanto sonho a falecer!
Não por medo, mas por fome;
Sede bruta que consome
Tantas bocas, tantos risos...
Pátria amada... Povo vil!
Este não é meu Brasil -
O maior dos paraísos...
VI
Realidade fatal... Cenas horrendas!
Às margens deste plácido gigante,
Avisto dor em práticas tremendas!
Sou apenas mais um poeta andante...
D'entre os desdéns brutais d'aquelas fendas,
Ando à busca d'algum herói errante!
Povo! Não vedes tais atrocidades?!
Povo! Não vedes tais fatalidades?!
Esse Mar se entristece a cada dia
Num refluxo solene - ato satânico!
País verde-amarelo d'alegria,
Não percais vosso cântico tirânico!
Um povo deve à Paz - a Tirania...
Fugi agora deste fero pânico!
Brasil do verde-louro desta flama,
Ardei na eternidade desta chama!
"Brasil! Brasil! Brasil!" Eu canto agora...
O combate subiu do Mar à terra!
Eternos patriotas - luz canora -
Entrai agora nesta grande guerra!
A luz do Sol acende o Mar nest'hora...
A luz do Sol o Mar agora encerra!
Castro Alves! Livra o povo deste mal!
Meu Deus! Livra o Brasil da dor brutal!...
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Innocencio do Nasimento e Silva Neto
*Obra registrada e autenticada em cartório, sob meus direitos autorais