MENINA SEM SONHOS, SEM SORRISO, SEM NADA

Aquele corpo,

Inerte no chão;

Tão sujo, tão nada

Entristeceu meu coração.

Num sono profundo,

Menina de pouca idade;

Vivendo no submundo

Da tão correta sociedade.

Vida ingrata,

Mundo cruel;

Por que não a trata?

Por que esse fel?

Na Duque de Caxias,

Em plena Fortaleza.

Na porta da CaixaEconômica,

O capitalXtristeza.

Uma criança

Que o sistema declarou culpada.

Não brinca mais e nem dança,

Brasília pra ela está ocupada.

Com lágrimas na face,

Parei junto a ela.

Coloquei no bolso minha dor

E senti a dor dela.

Ali entendi

O que é compaixão.

Uma agonia e defini:

Nenhuma razão e cem por cento emoção.

Aquela cena não sai da minha mente:

Ela estirada na calçada.

O capitalismo, com seu discurso comovente;

Ledo engano e mais nada.

NOTA: Escrevi esta poesia baseando-me em fatos reais. Não foi fácil observar aquela menina de aproximadamente onze anos de idade, esfarrapada, suja e faminta deitada na calçada em frente à porta da Caixa Econômica da Avenida Duque de Caxias, em Fortaleza, capital do Ceará. Aproximei-me dela e ofereci-lhe biscoito. Ainda sonolenta, disse-me que estava com muito sono. Percebi em sua voz, sofrimento e desilusão. Não me contive; entreguei-me às lágrimas e fui embora me sentindo impotente ante aquela situação. Não havia nada que eu pudesse fazer. Era apenas um idealista, um sonhador que anseia por um mundo melhor, onde não haja desigualdade social e que crianças como aquela que dormia na calçada, no centro de Fortaleza, sejam tratadas com dignidade pelas autoridades competentes.

Fica aqui o meu desabafo e indignação.

BRASIL, um país de todos. De todos quem?

ROGÉRIO RAMOS
Enviado por ROGÉRIO RAMOS em 27/07/2012
Reeditado em 07/03/2020
Código do texto: T3799832
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