Decepção
A lágrima reta
Sai do olho obliquo
A emoção torta
Sai do coração vivo
A palavra certa
Sai direto da alma
Você não é meu amigo
Não é amigo
É quase inimigo
Quem me dera ter mil passárgadas
Para me refugiar sob a capa do rei
Quem me dera ter mil segredos
Para guardar no baú do esquecimento
Quem me dera ter mil truques
Para prender sua atenção
Prender seu coração
Ancorar seu navio
No escuro cais perdido
de meu olhar...
Você não me vê
Como eu lhe vejo
Você me enxerga amigo de seu inimigo
Inimigo das guerras horrendas
Que se travam no silêncio
Nos sussurros violentos
Dos covis
Nas verves estreitas da fresta da porta
E num minuto de licenciosidade
E discrepância
Tudo se revela a minha frente
Você não é meu amigo
Como pode ser uma criatura
Ser tão cria e tão nua
Tão imatura a ponto de perceber
O que não há
Acreditar nos desejos intestinos
Nas ilusões imanentes
No reflexos do paraíso extinto
Da humanidade
Fico triste
E descubro
Você não é meu amigo
E nem nunca foi
Engulo a seco sozinha
E o deserto mata o soluço
Com a mais absoluta calma do mundo.