Decepção

A lágrima reta

Sai do olho obliquo

A emoção torta

Sai do coração vivo

A palavra certa

Sai direto da alma

Você não é meu amigo

Não é amigo

É quase inimigo

Quem me dera ter mil passárgadas

Para me refugiar sob a capa do rei

Quem me dera ter mil segredos

Para guardar no baú do esquecimento

Quem me dera ter mil truques

Para prender sua atenção

Prender seu coração

Ancorar seu navio

No escuro cais perdido

de meu olhar...

Você não me vê

Como eu lhe vejo

Você me enxerga amigo de seu inimigo

Inimigo das guerras horrendas

Que se travam no silêncio

Nos sussurros violentos

Dos covis

Nas verves estreitas da fresta da porta

E num minuto de licenciosidade

E discrepância

Tudo se revela a minha frente

Você não é meu amigo

Como pode ser uma criatura

Ser tão cria e tão nua

Tão imatura a ponto de perceber

O que não há

Acreditar nos desejos intestinos

Nas ilusões imanentes

No reflexos do paraíso extinto

Da humanidade

Fico triste

E descubro

Você não é meu amigo

E nem nunca foi

Engulo a seco sozinha

E o deserto mata o soluço

Com a mais absoluta calma do mundo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/02/2007
Código do texto: T379240
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