MENINOS DE RUA
MENINOS DE RUA
Meninos, meninas!
Desde o útero materno, a sorte lhe escancara a boca e lhe marca a sina.
Isso quando o aborto que lhe mira a cara não financia a morte lenta, sua,
E das suas mães, tristes princesas das sarjetas...
O jogo duro e eminente das ruas, revelam as disparidades.
E abrem o véu da realidade, de forma nua e crua, revelando a vida,
Meninos e meninas, a sós nas ruas, vêm-se assim sentenciados.
Driblando os carros que os escarnecem e escarram trocando as caras.
Corpos nus atestam à virilidade de infantes que se metamorfoseiam.
As flanelas são sua esperança, bandeira desfraldada a pedir socorro.
Vão limpando sistematicamente às imundícies de todo um sistema afeito.
Que deveria ser assentado sobre as bases do socialismo, igualdade e oportunidades.
Contudo, financiam mediante a indiferença, as armas da perdição irremediável.
Vias áridas da paixão de cristos sem alma, nos corações empedernidos pela apatia.
Na alucinação das colas e outros expedientes mascaram a fome, o frio, as sedes...
Na maioria das vezes, nos vasilhames de lixo coletam a feira!
E fartam-se do pão da rua que a vida e o capitalismo lhes oferecem!
Valem-se da intuição e da ciência do senso comum, como válvula de escape,
E totalmente alheios, brutalizados, maquinalmente repetem os mesmos gestos.
As meninas corpos reformados, analfabetas, entregues à própria sorte
Descobertas pela precocidade da libido animal de meninos e outras meninas.
Despudoradamente inconsciente exibem as coxas com labéu maquiavélico,
Franqueiam e mercadejam a vagina, ou o que os clientes desejam!
Sem nenhum anseio, sem as volúpias, que lhe possa garantir os gozos...
São assim comportas abertas para as diversas DST’s, que as aviltam e aniquilam.
Estagiam assim na sarjeta crua, suja, nua, abandonadas, para serem putas!
Abrem a boca e as pernas em pleno asfalto cáustico, indefesas.
Sem nenhum pudor, sem nenhuma censura, sem nenhum desejo.
Se sujeitam à sanha de homens maduros que lhes podiam dispensar amor paternal.
Em troca do real da fantasia que as façam mulher e fatal, e imolam-se.
Num gozo repetido no rosto das suas bonecas de pano a quem confiaram a infância.
Deixam-se inundar por sêmens amorais sem emoção, sem se aperceber da insídia.
Tempos depois agonizam na mesma calçada que lhe serviu de cama.
Meninas, com a mesma idade das nossas meninas, a mesma idade de nossas filhas.
Gemem surdamente e instintivamente abrem as pernas no afã de livrar-se do fardo.
Sob os mesmos olhares aterrorizados de outros meninos e meninas de mesma sorte.
E quando pari, pari a céu descoberto, que lhe vira as costas num fatídico prenúncio.
E assim, assustadas e combalidas, validam um novo ciclo de dor e de misérias.
Albérico Silva
MENINOS DE RUA
Meninos, meninas!
Desde o útero materno, a sorte lhe escancara a boca e lhe marca a sina.
Isso quando o aborto que lhe mira a cara não financia a morte lenta, sua,
E das suas mães, tristes princesas das sarjetas...
O jogo duro e eminente das ruas, revelam as disparidades.
E abrem o véu da realidade, de forma nua e crua, revelando a vida,
Meninos e meninas, a sós nas ruas, vêm-se assim sentenciados.
Driblando os carros que os escarnecem e escarram trocando as caras.
Corpos nus atestam à virilidade de infantes que se metamorfoseiam.
As flanelas são sua esperança, bandeira desfraldada a pedir socorro.
Vão limpando sistematicamente às imundícies de todo um sistema afeito.
Que deveria ser assentado sobre as bases do socialismo, igualdade e oportunidades.
Contudo, financiam mediante a indiferença, as armas da perdição irremediável.
Vias áridas da paixão de cristos sem alma, nos corações empedernidos pela apatia.
Na alucinação das colas e outros expedientes mascaram a fome, o frio, as sedes...
Na maioria das vezes, nos vasilhames de lixo coletam a feira!
E fartam-se do pão da rua que a vida e o capitalismo lhes oferecem!
Valem-se da intuição e da ciência do senso comum, como válvula de escape,
E totalmente alheios, brutalizados, maquinalmente repetem os mesmos gestos.
As meninas corpos reformados, analfabetas, entregues à própria sorte
Descobertas pela precocidade da libido animal de meninos e outras meninas.
Despudoradamente inconsciente exibem as coxas com labéu maquiavélico,
Franqueiam e mercadejam a vagina, ou o que os clientes desejam!
Sem nenhum anseio, sem as volúpias, que lhe possa garantir os gozos...
São assim comportas abertas para as diversas DST’s, que as aviltam e aniquilam.
Estagiam assim na sarjeta crua, suja, nua, abandonadas, para serem putas!
Abrem a boca e as pernas em pleno asfalto cáustico, indefesas.
Sem nenhum pudor, sem nenhuma censura, sem nenhum desejo.
Se sujeitam à sanha de homens maduros que lhes podiam dispensar amor paternal.
Em troca do real da fantasia que as façam mulher e fatal, e imolam-se.
Num gozo repetido no rosto das suas bonecas de pano a quem confiaram a infância.
Deixam-se inundar por sêmens amorais sem emoção, sem se aperceber da insídia.
Tempos depois agonizam na mesma calçada que lhe serviu de cama.
Meninas, com a mesma idade das nossas meninas, a mesma idade de nossas filhas.
Gemem surdamente e instintivamente abrem as pernas no afã de livrar-se do fardo.
Sob os mesmos olhares aterrorizados de outros meninos e meninas de mesma sorte.
E quando pari, pari a céu descoberto, que lhe vira as costas num fatídico prenúncio.
E assim, assustadas e combalidas, validam um novo ciclo de dor e de misérias.
Albérico Silva