Zé Ninguém, alguém.
Zé ninguém é aquele que faz o moinho moer.
É aquele que dorme ao relento na Rua do Rei.
É aquele que pede óbolo para sobreviver.
É aquele que ninguém conhece,
mas a todos ele ajuda a viver em reinos,
entre plumas e paetês!
Zé ninguém não é ninguém, e é, gente.
Gente como a gente...
Ama
Come
Dorme
Sonha
Que viver...
Mas o seu viver é relativo ao ver de quem está no poder.
E assim, seu viver é uma corrida contra o sofrer,
Que antes mesmo de nascer, o dia já lhe diz:
Sofrer vai ser tua cruz, já que és ninguém!
E ninguém...
Não come.
Não dorme.
Não sonha.
Não vive.
Não fala.
Não grita!
Ninguém geme de dor em silêncio
Para não acordar os senhores trabalhadores responsáveis,
que a ele lhe deram o seguinte direito:
De não esquecer que não têm direitos!
Zé ninguém é aquele ser humano que mora entre
A cruz e a espada...
Mora onde não mora ninguém.
Onde o alimento é o vento.
Onde a dor não é o estresse
De uma negociação que não deu certo.
É a dor da fome;
Corroendo seu estomago,
Matando sua mente,
Laminando seu corpo
Empedrando seu coração,
Secando as folhas do seu ser gente...
Zé ninguém é o retrato amarelado
Nas gavetas dos cidadãos letrados.
É o monstro que aterroriza aos cidadãos de bem!
O rato de cobaia das estatísticas.
Medir índice de pobreza:
Casa do Zé.
Medir índice da violência,
Casa do Zé.
Medir índice da fome,
Casa do Zé.
Medir o consumo de drogas (tabaco, álcool, maconha, craque),
Casa do Zé.
Medir índice de analfabetismo,
Casa do Zé.
Medir o índice de desonestidade,
Casa do Zé. Êpa!
Não era na casa dos das Rampas?!
Zé ninguém é o homem de bem
Que sustenta com seu suor
Essa sociedade hipócrita!
- Segundo Darci Ribeiro, o “Zé ninguém”
Era o filho de índio com europeu,
Que não era nem índio nem europeu.
Filho de negro com branco,
Que não era negro nem branco,
Ou seja, que ninguém queria, não era ninguém.
- Hoje esse Zé ninguém sou eu é tu!
Que na verdade, eles eram, e somos também, alguém.
Porque tinham e temos na nossa constituição biologia e física,
características indígenas, européias e africanas!
Assim, está constituído o povo brasileiro;
numa mistura heterogênea, como numa aquarela.
As cores são percebíveis, mas jamais separáveis!
Edna Maria Pessoa.
Natal-RN, 13 de julho de 2012.