SEM RIMA 254.- ... Uma noite na eira ...

O poeta galego, clássico e ourensano,

Curros Henriques escreveu

o poema "Uma noite na eira do trigo"

que o crunhês Pucho Boedo canta

com sentimento de leveza ardente.

(http://www.youtube.com/watch?v=h5Nevd_hq-g)

Reconheço que letra,

a dor emigrante que Curros

padeceu, e música de João Montes,

sensível e rija, de vez, me fazem chorar...

(Não choro ante a gente, salvo que a tenha

de acompanhar. Reconheço que não é doloroso

chorar com a gente galega... Muito

mais do que chora deveria

chorar... de raiva e com raiva.)

O poema

do Curros, a melodia do Montes

arrepiam-me até sofrer mergulhos

de tristeza, até sentir as dores da morte

que de longe ameaçam

também hoje as vidas

do amador, Romeu marinheiro,

e da namorada, Julieta do povo...

"Noites claras de aroma e lua,

Desde então que tristeza em vós há,

Pròs que viram chorar uma nena*,

Pròs que viram um barco marchar.

"Dum amor celestial verdadeiro,

Ficou apenas de báguas** a prova,

Uma cova num outeiro,

E um cadáver no fundo do mar."

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(*) "neno" s. m. (1) Ser humano de pouca idade. (2) Filho. (3) Moço novo.

(**) "bágua" s. f. Líquido segregado pola glândula lacrimal, o mesmo que lágrima.

s. f. pl. Choro, pranto.

fig. "arrincar báguas": comover profundamente.

fig. "báguas de sangue": grandes dificuldades ou pesares: 'custou-lhe báguas de sangue ter para os filhos'.

"báguas de crocodilo": lágrimas fingidas.

s. f. pl. Bot. "báguas de São Pedro": planta gramínea.