RÉQUIEM PELO BRASIL CATIVO

(in memoriam de Ulysses Guimarães)

Acordes cavalgam a pauta

com flores na boca,

e vem do fundo dos tempos

a canção solitária.

A lua – tímida – boceja a alma

dançarina,

e a luminosa fonte troça

de estrelas e nuvens.

Aninha-se dentro de mim

o sem-nome de amores.

Fluem esperanças no sal dos homens,

e tardia é a semeadura.

Germinam sementes e migalhas de pão.

Atiçam tontos folguedos

os que brincam de Pátria.

Crepita o luzeiro da liberdade.

Só o poder de amar gera

quem não perde o norte.

Quem sabe dos anseios pede a morte.

O cão raivoso espreita nos fachos

da rua sem saída.

A anunciada

morte ceifa o corpo dos amantes.

Cerra-se a boca dos brasis.

O canto da sereia ainda é o mesmo

na terra de Cabral.

É fogueira insensata a impunidade.

Rubro é o verso.

Galopa fremente o dardo

desferindo a morte.

Na canção solitária,

o canto sonha nas esquinas.

O violão e a gaita acasalam a tristeza,

o tempo e o verso.

Campeiam rios de inquietação

e se derramam

nos ventos da invernia.

Nos cinzeiros mortos,

resta o opaco das horas,

a amarga voz das lavras

no mistério das uvas.

O olho de Deus sussurra o Padre Nosso

aos ouvidos pecadores,

e a Liberdade

é o luzeiro na próxima esquina,

canção luminosa dos ajustes.

E são gêmeos os duendes

na memória.

Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance,2005,p. 60:1.