SAGRAÇÃO DOS RITOS
Eu vi a tempestade
com sua armadura de prata
e fogo, e o meu cavalo louco
enfrentou o vento e a chuva.
Havia no ar este obscuro dom
do sem-rumo, e fiquei cego,
o alado coração bem triste.
O corpo gasto, a boca dividida
entre o real por fora
e o fel por dentro.
Ouvi, Pai de amor,
molhai-me com o sangue por nós,
incompreendidos de Vós e de mim.
Costurai as chagas
na sagração dos ritos
que nos fazem vivos!
Fazei com que eu seja apenas
semente
nesta terra bruta de sóis lampejantes,
esparsas chuvas.
Vamo-nos, todos, por caminhos,
que a Paz está longe
e a palavra gastou dentes e língua.
– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 57.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/37652