João ninguém
E o pescador até que enfim chegou
Correram todos à praia
Mas ele não trouxe peixe
Trouxe esperança no anzol
Uma aliança que fez com o sol
E uma idéia louca de transformação
Quem tinha dinheiro nem conhecia o João
Quem tinha opção logo torceu o nariz
Pois na peixaria sempre haveria
E se eles quisessem ali comprariam
Seu João pescador na praça principal
Pregou que a aliança e que seu anzol
Iria encher a pança dos necessitados
Que era aliança dos desesperados
O povo em transe pasmo se quedou em prantos
Lavando-lhe os pés, chamando-o de santo!
Outros viram no João desfaçatez, malícia...
E um vereador chamou logo a polícia
A rádio da igreja e o semanário
Apresentaram o João como um salafrário
Não se importando com a morte da fome
Tal como predisse a promessa do João
E na felicidade trôpega da cidade
Frente à tempestade de opiniões
Vingou a idéia às avessas da mídia
E João foi levado a uma eleição
Já prefeito afeito a tantos arranhões
Das mil vis campanhas e de amigos ladrões
Agora promete aliança com a lua
que ninguém mendigará um só peixe na rua
Para a elite João é só um pescador
Metido, insolente, “analfa”, aproveitador.
Nunca importa mesmo a gente ajudada
Para aqueles ele jamais valeu nada