O mártir.
Artistas não deveriam existir.
Bombas seriam somente bombas.
Nada de interessante haveria ali.
Nada de histórico haveria ali.
Artistas não deveriam nascer.
Olhares seriam somente olhares.
Dor não haveria ali.
Medo não haveria ali.
Artistas não deveriam existir.
Cores seriam somente cores.
Sentimentos não haveria ali.
Imaginação não haveria ali.
Artistas deveriam descansar.
Sob o perfeito e harmonioso limbo.
Com sua alma sensível.
Depois deste grande caos.
Deveriam beber muito suco de espetaculares frutas viçosas.
Deitar-se sob uma cama empestada de pétalas de rosas.
Sem seus espinhos, na paz de sua morte.
Pela sensibilidade lhes dada,
deveriam dormir tranquilos.
Longe daqueles prédios que assustam seus sonhos.
Deveriam velejar pelas nuvens
Em dias de clima ameno perfeito.
Pela sua compaixão diante de tudo que o toca.
Pela sua compreensão.
Nunca aqueles que são sujos.
Nunca aqueles que vendem sua alma por um pouco de migalhas.
Mas sim aqueles que deitam-se sob a dor e o sofrimento.
E choram nelas palavras, versos, desenhos, pinturas, sem nada quererem em troca, além de conhecimento.
Reconhecimento.
De sua dor.
Oh, senhor!
Levai-os daqui.
Pelo menos os de alma mais sensível.
Que não sucumbem as tramas dos seres mais hostis.
Que não tem coragem de vender seus sonhos a custo de ganancia.
Arrebatai-os, na hora em que eles não conseguirem mais sob o sofrimento deitar.
Quando seus corações estiverem encharcados de lágrimas dançantes.
Quando bombas atômicas não forem mais elas.
Quando anjos não existirem, nem sequer de forma tediosa e real, como vemos aqui.
Artistas não deveriam existir.
E árvores seriam apenas madeira oca e plantas verdes.
E o verde delas seria apenas uma cor.
E a cor seria apenas o que um humano tem a capacidade de ver.
E seria nada para aquele que não tem essa capacidade.
Artistas não deveriam nascer.
Não é justo só eles arrebentarem suas costas curvadas com vários seres nelas.
Aqueles que muitas vezes abrem mão de suas importâncias.
Para darem lugar a corações sem paz.
A vidas sem cores.
A vida sem arte.
Por ideais de um mundo incompreensivo.
Artistas deveriam subir aos céus.
E lá aguardar o julgamento que é de todos.
Não, artistas não seriam santos, por sentirem mais.
Mas deveriam nunca ter nascido.
Apenas esperado o julgamento correto, no que eles chamam "limbo".
Artistas não deveriam ter nascido.
No meio desta euforia.
Deste disparate por poder.
Onde um artista não vez nem voz.
Pois ser você é proibido.
Esclarecer mentes é pena de morte.
E não querer subir nas costas alheias para conseguir algo é pecado.
Sob pena de morrer de fome.
Quem dera mesmo a eles morrer.
É por isso que apelo.
Artistas deveriam estar lá.
Longe daqui.
Este mundo deveria ser só deles.
Do nada.
Do nada sufocado.
Do nada caído.
Do nada sofrido.
Sem algum sentido.