O DIA EM QUE ME DESCOBRI BEAT
Sentado entre ilhas de outras pessoas
Vigiado por restos de mulheres decadentes e jovens e futuras putas
Eu sinto toda a imundície superficial e alastrada do mundo que me cerca
Suas lanchonetes estreitas e acanhadas e meus olhos doloridos da visão da duvida constroem um quadro sem nexo do passar e do tempo
Eu prossigo ouvindo as historias do ‘narrador’ de Hozorio e acompanhando o passar da vida que ainda é capaz de trazer surpresas
E de fato trouxe Ana que ainda não sei de quando até quando e por quanto, mas nesta altura dos picos da vida tudo e tempo ganho.
Adulado pelas vontades e tentado pela propaganda marketing social de vender almas e corpos eu ostento e sustento pornografias repletas de pudores fictícios e vagos
Como viagens sem acido e estimulantes, mas a óleo diesel sobre rodas e bancos.
Dezenas de olhares a espera
E trocadilhos silenciosos
Palavrões silenciosos
Desculpas silenciosas
E cantadas silenciosas
Sem que, no entanto haja frutos para colher desta arvore que se amiúda e seca.
Inúmeras as revoluções e por que não revelações estereotipadas do comportamento de cada um
Exposto a praga nojenta da multidão
São todas florestas e espadas sacrossantas na guerra do nenhum sentido contra a fauna do saber
Como se ligássemos para compaixões ou dogmas
Livre arbítrio ou loucura
Ideias criaturas e criações distanciadas
Como se ligássemos uns para os outros
Como se nos importássemos...
Como se isto fosse escrito em boa caligrafia
Como se fosse um poema
Jogados as jangadas de metal
Flutuantes no mar de asfalto retorcido esburacado
Redemoinhos de vento onde habitam os peixes cor ocre do oceano de infortúnios
Como se quiséssemos conversa nestes barcos
Como se importasse o companheiro do lado e o que ele tem para dizer...
Como se tudo não fosse meramente questão de chegar de atingir nosso próprio porto
Indiferentes aos outros
Sentados esperando falando de empregos e família
Como se não imaginássemos e sonhássemos e ate desejássemos ‘putaria’ a mesma ‘putaria’ que esta ai ao alcance de todos
Nas paginas multicoloridas das revistas e nas pelancas caídas das putas da rodoviária
Como se não houvesse os pederastas e não existissem desejos proibidos e sujos
Povoados de crianças nuas em plena felação ou sodomia com velhos e velhas nojentas sexagenários
Gente maldita e abjeta que não merece menos que uma morte longa e muito dolorosa que todos sabem existir, mas muitos preferem não ver.
Ali paralisados pela força da espera não ligamos para o fim de toda a inocência
E para as mortes a nossa volta
Fingindo...
Fingindo não desejar o rabo gostoso da boazuda que passa
Nem os peitos salientes e visíveis sob a blusinha transparente da moça
Fingindo não notar o olhar sacana e desejoso das senhoras de quarenta ou mais...
Que ainda bastante conservadas fantasiam tórridas senas de sexo de todas as formas e jeitos possíveis num amalgama ciclonico de anal, horal e masoquismo com os mais diversos garotos super bem dotados...
Fantasias nunca satisfeitas que ficam apenas em suas mentes já tão cansadas e infelizes
Aguardando incrustados ao bando simulando não perceber os guardas discretamente carregando prostitutas para suas salas no primeiro andar sequiosos por uma rapidinha...
E crianças por ali com olhares cruéis e maldosas tão novas e já tão brutalizadas
Embora não todas...
Nem ainda de todo...
Fingindo sinicamente respeitar mulheres casadas ou acompanhadas
Como se não olhássemos seus decotes e coxas a mostra nas saias curtas
Uma torrente impossível de sentimentos abundando na demora do transporte e nos pensamentos divididos
Durante o processo da viagem que faz parte do relacionamento
Como se tudo pudesse terminar com a chegada
Como se ficassem para traz os problemas...
Os personagens...
Os pensamentos...
As ideias...
Os bêbados...
As drogas...
Os pervertidos...
Os tarados...
As putas...
Eles não ficam
Por que aguardam comigo
Por que esperam e embarcam em minha mente (também na tua mente) numa carona não autorizada, mas necessária e partem conosco.
Partem parte de mim
Me acompanham
E partem...
Na estrada das léguas sem fim e sem destino
Nas madrugadas sem sono
Por esta vida perdida.