CONTO DE FADAS

Será que final feliz,

É mais uma forma de pleonasmo?

Não! Seria contraditório.

Pois se é final, como haverá de ser feliz?

Quer que eu encare o futuro com entusiasmo?

Posso dizer coisas que sua covardia não diz.

E vemos o acaso sorrindo como um bobo,

Do destino que é mero aprendiz.

E eu não tenho a cara pintada,

Nem é vermelho meu nariz.

Não vou sorrir por nada,

Enquanto muitos passam fome

Lavando com pranto o prato vazio,

Constatando a miséria calamitosa

Desse nosso imenso país.

Não creio em conto de fadas

Onde o vilão pode se dar bem no Planalto.

A tua heroína é na coxia uma bela e talentosa meretriz.

E a mocinha no asfalto encena um monólogo, curvando-se

Aos lobos que os caçadores fingem não ver.

Ela recebe o cachê, mas, não ganha os aplausos como uma boa atriz.

Nem usa capa vermelha, nem cobre seus cachos com gorro,

Em suas coxas desnudas, brilha lua, besuntadas em óleos essências.

Não vende rosas, embriaga-se com licor de cássis.

E no íntimo pede socorro por trás da sua maquiagem,

De princesa de desejos ardentes, febris.

Nossos príncipes finca suas espadas no concreto,

É pá, é enxada, seus pesadelos são reais,

Ilusório mesmo só seu teto.

As crianças estudam a estrada,

Cascalhos e migalhas do você já não quis.

As mães da periferia não trajam "Versatti"

Nem de "Prada" se reveste.

Carregam força e amor que a

Ás torna versátil e na fala embargada

A esperança que o um dia lhe atendam a prece

Por um pouco de paz.

Abraçam a idéia de uma nova era

Uma vez

Um mundo perfeito onde todos tinham todo direito

E tudo direito.

A felicidade constitucional

E todo fim justificavam os meios,

E no meio de tantos devaneios a realidade era mistura

Do prato feito ao meio dia e o dia inteiro.

E assim viveríamos felizes para sempre até

Que tudo tivesse um ponto final.

Anna Lima
Enviado por Anna Lima em 13/06/2012
Reeditado em 27/11/2013
Código do texto: T3722153
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