CONTO DE FADAS
Será que final feliz,
É mais uma forma de pleonasmo?
Não! Seria contraditório.
Pois se é final, como haverá de ser feliz?
Quer que eu encare o futuro com entusiasmo?
Posso dizer coisas que sua covardia não diz.
E vemos o acaso sorrindo como um bobo,
Do destino que é mero aprendiz.
E eu não tenho a cara pintada,
Nem é vermelho meu nariz.
Não vou sorrir por nada,
Enquanto muitos passam fome
Lavando com pranto o prato vazio,
Constatando a miséria calamitosa
Desse nosso imenso país.
Não creio em conto de fadas
Onde o vilão pode se dar bem no Planalto.
A tua heroína é na coxia uma bela e talentosa meretriz.
E a mocinha no asfalto encena um monólogo, curvando-se
Aos lobos que os caçadores fingem não ver.
Ela recebe o cachê, mas, não ganha os aplausos como uma boa atriz.
Nem usa capa vermelha, nem cobre seus cachos com gorro,
Em suas coxas desnudas, brilha lua, besuntadas em óleos essências.
Não vende rosas, embriaga-se com licor de cássis.
E no íntimo pede socorro por trás da sua maquiagem,
De princesa de desejos ardentes, febris.
Nossos príncipes finca suas espadas no concreto,
É pá, é enxada, seus pesadelos são reais,
Ilusório mesmo só seu teto.
As crianças estudam a estrada,
Cascalhos e migalhas do você já não quis.
As mães da periferia não trajam "Versatti"
Nem de "Prada" se reveste.
Carregam força e amor que a
Ás torna versátil e na fala embargada
A esperança que o um dia lhe atendam a prece
Por um pouco de paz.
Abraçam a idéia de uma nova era
Uma vez
Um mundo perfeito onde todos tinham todo direito
E tudo direito.
A felicidade constitucional
E todo fim justificavam os meios,
E no meio de tantos devaneios a realidade era mistura
Do prato feito ao meio dia e o dia inteiro.
E assim viveríamos felizes para sempre até
Que tudo tivesse um ponto final.