VIDA NUA, CRUA...DAS RUAS!

Meninos varrem as calçadas da cidade todos os dias.

Com suas costas largas, nuas, magras e ossudas procuram sobras de pedras mortais.

Seu sustento? O cachimbo, a guimba de uma erva estranha que os fazem esquecer as mazelas e intempéries da vida.

Comida não se tem. Sua guarnição encontra-se na lixeira mais próxima

Casa teve um dia... Hoje, a rua é seu lugar.

Vida pouco além. Sobrevida

O que se tem depois de um dia onde a exaustão, a fadiga e andança, na busca desenfreada dos restos de um cachimbo jogado, senão a vontade de deitar, dormir e descansar?

Andar por quê? Encontrar o que? Ali mais adiante, Com semblante quase inocente pede... “Um trocado moça pra eu comprá um lanche.”

Conta às moedas.

Tem fome.

Mas seu desejo é outro, outro que o deixe mais elétrico, mais alegre, esquecido, ainda que por alguns instantes, sua abjeta existência.

Segue adiante.

Tem sede.

Sede de que?

O corpo já esquelético e o cérebro corroído pelo vicio nada pede além da pedra.

Esquece-se de beber algum líquido para, ao menos, hidratar o que restou do corpo de antes.

Chega ao seu destino.

Pede.

Implora.

Conta às miseras moedas na esperança de satisfazer sua vontade, matar sua sede e fome.

Senta.

Olha sorrateiramente ao seu redor.

Amontoa-se.

Acende.

Traga.

Sente e esquece.

Ali fica por algum tempo.

O corpo tomado pela inércia, não sente a podridão que toma conta do ar.

Indiferente a tudo adormece... Não mais sonha.

Acorda e o desejo insaciável já o toma por inteiro... Quer mais. O que fazer?

Levanta, sai, caminha, olha-se e desconhece-se.

Chega a noite, calor, sono, fome, sede, vontade...

Quer algo... Caminha solitário na estrada da vida sem volta.

Mais uma vez pede um trocado para o “lanche”.

Aborda.

Pede.

Alguém oferece leite.

Leite?

Com a pouca lucidez que ainda tem, pensa: Faz tempo que não tomo.

Abre.

Toma.

Deita

Exausto, dorme

O frio gelado chicoteia o corpo entorpecido.

Pela primeira vez, depois de muito tempo, sonha!

Sala... Quarto... Cozinha... Quintal.

Bruscamente é acordado.

- E aí, mano, cadê meu dinheiro? Estou esperando há muito tempo, meu chapa!

- Sossega! Pago a noite.

- E esse leite?

- Ganhei.

No dia seguinte apenas à caixa amassada, jogada no canto, restava como testemunha.

Não houve grito, nem gemido.

Nunca mais... Onde está?

Este texto foi escrito por um amigo muito querido chamado Jhamaro Lima.

Jhamaro é Jornalista, Escritor, Educador Social, que há mais de 20 anos trabalha com crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.

O texto é tão real quanto as situações vivenciadas por estas pessoas.

Parabéns Jhamaro e obrigada por permitir sua publicação em minha página.