Nossa leve indignação

Brados por mudanças, não mudam,

o vetusto parece novo quando brada;

surrada lição pra o povo que estuda,

sem aprender, todavia, quase nada.

O monótono vídeo tape dessa vida,

é fita conhecida, surpresa vedada;

onde bem poderia ingerir nossa lida

quedamos omissos, e, cada um,cada…

Essa enfermidade que nos paralisa,

retém-nos inertes, como descrever?

Nossa indignação é leve como brisa

e a hipocrisia informada manda ver.

Plenos de utopias, os nossos pratos,

só comemos o pão, que não vitaliza;

de tanto vivermos o modo abstrato,

nossa abstração enfim, se concretiza.

O metabolismo que agora inquieta,

processando o pão quente da poesia;

suscita pensar, que é mesmo o poeta,

será também, outro refém da utopia?

Talvez até seja, mas não confortável,

e quando toca nas almas, algo fica;

disso testificam de maneira notável,

as citações dos que se identificam.

Seu toque é como um grito de dor,

clamando à cumplicidade de alguém;

ou , mera carência de despertador,

pra lembrá-lo que dorme também…