Muro da Vergonha

Os pés que me sustentam o corpo

São os que me unem a minha terra

A cor que me une a minha terra

É a mesma que, por vezes, me ausenta dela...

A ausência de cor minha na tez salgada

É o que me enlaça ao meu amor

A minha capacidade de amar quem quero

Me afasta de quem não gostou

A cidade que abriga o meu céu

É diferente da cidade que abriga o seu

Mas o céu que abriga nossas cidades

É o mesmo em todos os lugares...

Por conseguinte protegidos estamos

Pela mesma grade que nos faz juntos

E nos faz atritar sempre

O mundo é pequeno demais pra nós dois...

Mais tão grande é o mundo nosso

Católico que Santa Maria nos divide

Com a matriz do muro da vergonha

Que separa quem tem e quem não tem

Tão unidos os nossos corações apaixonados

Que a distância na consegue os separar

Como quem está na mesma cidade

Está tão longe do seu lugar?

Quem viaja para muito longe

Para descansar suas vistas culpadas

Carrega na cabeça o orgulho idiota

De quem não pertence à terra!

De quem foge das culpas agravadas

Ao tapar suas janelas destas vistas

Quem nem para o mar apontam

Mas se ilham nas suas soberbas

Os pés que mal sustentam o corpo

São os que, calçados me separam da terra

A ausência de cor que me une a minha terra

É a mesma que, por querer, me ausenta dela...